Os líderes mundiais reuniram-se na cúpula do G8 e rezaram em coro: crescimento, crescimento, crescimento. Barack Obama, em coletiva de imprensa, disse que os europeus finalmente concordaram sobre o tema. François Hollande, o novo presidente francês, seguiu a mesma pauta. E até Ângela Merkel, a medo, lá disse a palavra.
Existe nos líderes a crença primitiva de que “crescimento” é uma questão de fé. Se repetirem a palavra várias vezes, a economia europeia sai do buraco já a partir de amanhã.
Infelizmente, os líderes esqueceram-se de responder a uma pergunta fundamental: e como gerar esse crescimento?
Mistério. Absoluto. Não houve da boca dos líderes uma vaga explicação sobre a matéria. O que permite concluir que o “crescimento” de que fala o G8 resume-se à repetição de medidas “neokeynesianas”, com os estados da Europa a jogarem dinheiro para cima das economias endividadas.
Ideia simpática. Pena que impraticável. Com a exceção da Alemanha (e da Finlândia), a crise do euro não poupou ninguém e o cenário de estagnação é arrepiante.
E a Alemanha, até prova em contrário, é habitada por alemães e, como lembra a colunista Janet Daley, no “Telegraph” de Londres, regida por uma lei constitucional alemã.
Por outras palavras: o mundo inteiro pode exigir “crescimento”, ou seja, exigir que a Alemanha esteja disponível para fazer transferências maciças de recursos para os países endividados; que aceite os famosos “eurobonds”, títulos de dívida da zona do euro, pagando juros mais elevados; e que contribua para uma alteração dos estatutos do Banco Central Europeu, transformando a instituição numa espécie de credor de último recurso dos Estados.
Tudo isso esbarra com a realidade. Repito: a chanceler Merkel responde perante o seu eleitorado, que se opõe a qualquer uma dessas medidas; e, sobretudo, responde perante a lei do seu país.
A cúpula do G8 não produziu nada, exceto impasse: o exato impasse que tem consumido em recessão e desemprego os países da União Europeia, amarrados a uma moeda inviável e com a saída iminente da Grécia (custo: 750 bilhões de euros para a economia europeia, em uma estimativa conservadora).
Tudo isso poderia ter sido evitado? Ou, pelo menos, preparado? Naturalmente que sim: se tivesse havido a sensatez e a coragem de perceber que o primeiro resgate da Grécia só levaria a um segundo, e que um segundo não levaria a lugar nenhum enquanto a Grécia permanecesse em uma moeda que não pode desvalorizar.
Os líderes da Europa preferiram não contemplar esse cenário, chutando o problema para o dia seguinte.
E hoje, reunidos em Camp David, os mesmos líderes continuam a negação da realidade, esperando que a mera repetição de uma palavra tenha efeitos milagrosos. Não me lembro de ver semelhante espetáculo de fanatismo e cegueira na política do nosso tempo.
Por : João Pereira Coutinho
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