quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Os fins do mundo

 

Publicado 30 Janeiro 2014. em Arthur Soffiati

Por Arthur Soffiati

Não pense o leitor que, com este título, pretendo discorrer sobre as finalidades da Terra, sobre o plano de Deus para o nosso planeta. Não se sabe qual o objetivo de Deus nem do nosso diminuto e insignificante mundo quando ele surgiu. O único conhecimento que temos é sobre seu fim, daqui a 5 bilhões de anos. O que se pretende abordar neste artigo são os finais naturais possíveis para a Terra entre os dias atuais e o seu final infeliz.

Deixo bem claro que a humanidade pode provocar um estrago muito profundo no planeta, alterando radicalmente suas condições climáticas, condenando muitas espécies à extinção, acidificando os oceanos, destruindo os ecossistemas terrestres nativos etc. Mas não pode detonar a Terra, nem mesmo usando todo seu arsenal nuclear. Embebida numa cultura materialista, imediatista, individualista e gananciosa, a humanidade é muito forte para mudar as condições ambientais do Holoceno, criadas por mudanças naturais, porém muito fraca para esfarelar a Terra e inviabilizar sua regeneração.

Das menores para as maiores ameaças naturais pairando sobre a Terra, apontemos o vulcanismo. Se grande parte dos vulcões do planeta entrasse em erupção, como já aconteceu em períodos pré-humanos, uma quantidade muito grande de partículas seria lançada na atmosfera, dificultando o processo de fotossíntese e comprometendo a cadeia alimentar. Além do mais, a destruição das obras humanas ocorreria com grande facilidade porque colonizamos irresponsavelmente a Terra. Contudo, seria difícil prever o fim da vida e da humanidade. Do mesmo modo, uma série de terremotos e maremotos causaria grandes estragos à humanidade e à vida, bem mais que no passado, quando havia maiores espaços livres.

Mudanças na inclinação do eixo terrestre poderiam ser desastrosas para os ecossistemas nativos, a biodiversidade, a economia e as sociedades humanas de um modo geral. É a inclinação que produz as estações do ano. Se houvesse uma mudança brusca no eixo oblíquo, mudanças climáticas seriam muito danosas. Tais mudanças ocorrem lentamente, ao longo de milênios, permitindo à vida adaptar-se às novas condições. Mas se a velocidade de rotação da Terra mudasse? Cientistas acreditam que os estragos seriam bem mais profundos, pois a gravidade não teria mais força para reter um elemento essencial à vida: a água. Especula-se que Marte já teve oceanos e vida, mas mudanças na rotação do planeta deixaram os mares fugir para o espaço. Se, de fato, os cientistas estão certos, o fim da água na Terra seria o fim da vida, incluindo a humanidade.

Ao lado dos fatores internos de catástrofes, há os fatores externos. O principal deles é a colisão de corpos celestes com a Terra. A maioria dos paleontólogos acredita que o choque de um grande asteróide com o planeta tenha sido o principal responsável pela extinção dos dinossauros, há cerca ou a partir de 65 milhões de anos. Nosso mundo continua exposto a este perigo. Nossos protetores são Júpiter e a atmosfera terrestre. O primeiro é tão grande que atrai para si grande número de corpos celestes errantes. Quanto à atmosfera terrestre, o oxigênio presente nela queima os corpos invasores. Mas não estamos inteiramente a salvo. Em fevereiro deste ano, o meteoro Chelaybinsk burlou todos os vigilantes, inclusive os humanos, e se chocou com a superfície terrestre na Rússia. Embora não tenha causado nenhuma vítima fatal, ele causou grande estrago material. Pela avaliação de estudiosos, os estragos seriam muito maiores se ele caísse num núcleo urbano.

Li recentemente duas hipóteses astronômicas estranhas. A primeira parte da premissa de que o Universo nasceu gasoso. Estaríamos agora na sua fase líquida, em sentido metafórico, é claro. Ao chegar ao estado sólido, ainda metaforicamente, sua expansão seria sustada e ele morreria. A outra parte da hipótese aventada por Edgar Morin: existe um multiverso, ou seja, outros universos além do nosso. A expansão e o choque deles representariam um colapso final.

Este artigo meio insólito procura mostrar como não vivemos num mar de tranquilidade na Terra. O físico brasileiro Marcelo Gleiser, de renome internacional e ateu, crê que as condições para a vida na Terra parecem configurar um milagre. Nosso planeta é hostil naturalmente, mas a vida (não a nossa) construiu um mundo habitável, até certo ponto saudável e bonito. Ele deve chegar ao fim total daqui a 5 bilhões de anos. Até lá, pode ser que encontremos outro para nos mudarmos. Por enquanto, contudo, é o único que temos. Infelizmente, os argumentos desfilados aqui não sensibilizam a humanidade, sobretudo os poderosos, quanto à importância de protegê-lo.

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