Publicado em 24-Jun-2013
Os protestos que vêm ocorrendo pelo país têm motivações variadas e em geral não muito claras. As pesquisas mostram que, entre os que apoiam as manifestações, a ampla maioria está satisfeita com sua vida. Mas, com apoio da mídia, setores buscam se impor no movimento. Editoriais procuram induzir que o movimento é contra o governo e se recusam a denunciar os grupos de ultradireita e paramilitares que saqueiam e vandalizam as cidades.
Os protestos que vêm ocorrendo pelo país têm motivações variadas e em geral não muito claras, basta ver os números revelados pelas pesquisas. Incluem tarifas mais baixas e melhores condições de transporte, melhores serviços públicos, saúde e educação, contra a repressão, e em resposta à ação violenta das Polícias Militares – pedida pelos jornalões e por emissoras de TV.
Agora, há uma tentativa de dirigir as manifestações contra os políticos em geral, partidos e PEC 37. Como é natural nesses movimentos, basta ver a experiência internacional, a agenda é aberta, às vezes vaga, diferentes setores sociais participam e são favoráveis às bandeiras que a mídia prioriza.
Portanto, não é que não haja um sentimento de que o modelo político se esgotou ou setores sociais contra a PEC 37; mas não são hegemônicos. Com o apoio da mídia, buscam se impor no movimento e com o movimento.
Hoje mesmo, editoriais procuram induzir que o movimento é contra o governo Dilma e o PT e que expressa o sentimento do país, majoritário, “contra tudo o que está aí”, que “ninguém aguenta mais” e por aí vai.
Mais grave: estimulam a tendência de negação da democracia e das entidades que a representam – partidos, sindicatos, organizações sociais, Parlamento e voto –, de novo flertando com a ditadura, como no passado, recusando-se a denunciar os grupos de ultradireita e paramilitares que saqueiam e vandalizam as cidades. Quase comemoram as agressões aos partidos nas manifestações.
Maioria está satisfeita
No entanto, as pesquisas dizem o contrário. O Ibope divulgado pela revista Época mostra que, entre as pessoas que apoiam os protestos, 69% estão satisfeitas com sua vida e 39% acreditam num futuro melhor para o Brasil. E mais: 71% dos brasileiros dizer estar satisfeitos com sua vida atual e 43% têm expectativas positivas sobre o futuro do país.
Na pesquisa Datafolha, chama a atenção o fato de que, entre os paulistanos, 72% apoiam as manifestações, 43% consideram a PM muito violenta e 66% são a favor da continuidade dos protestos e 34% contra. Mas também chama atenção uma informação perdida na matéria publicada pela Folha no domingo: nos segmentos sociais de baixa renda e escolaridade, a continuidade das manifestações tem menos apelo, diferentemente do que ocorre entre os de altas escolaridade e renda.
A pesquisa confirma que as melhorias na saúde e na educação dominam as demandas dos manifestantes, depois da redução das tarifas.
Guilhotina para políticos
Mais grave é a tentativa de alguns setores políticos e sociais e mesmo jornalistas velhos experientes de apresentar as manifestações como uma razão para violar as leis e a Constituição. Seria uma espécie de guilhotina apontada para os políticos e as instituições.
Muitos, a maioria, simplesmente esconderam o rechaço generalizado em muitas manifestações à imprensa e a condenável violência contra jornalistas e carros de emissoras, não generalizando o sentimento entre os manifestantes, como fizeram com outras palavras de ordem e ações. É importante ressaltar que essa violência é de uma minoria, e não da maioria dos manifestantes, que agem de forma pacífica.
Há ainda uma torcida, que vem de longe, para que a situação econômica se agrave como consequência das manifestações e que a confiança no exterior no país desapareça. Há meses parte da imprensa internacional vem repetindo a crítica que a mídia tupiniquim faz ao governo, desconhecendo ou escondendo que a crise mundial que atingiu a nossa economia já faz o mesmo em toda a América Latina.
Isso não significa desconhecer nossos próprios problemas que estamos combatendo, seja a infraestrutura, a educação ou a inovação, seja a carga tributária, que precisa ser incluída na agenda anunciada pela presidenta Dilma Rousseff, ou o custo do dinheiro, a inflação e a necessidade de mais investimentos, desafios que o governo vem enfrentando.
Manifestações mudaram a agenda do país
O fato é que as manifestações mudaram a agenda e a vida do país. Representam setores da sociedade, uma parcela importante da juventude, e suas demandas têm que ser atendidas, como vêm sendo atendidas nos últimos dez anos.
A fala da presidenta e suas propostas vão nessa direção, de diálogo com os manifestantes, com o pacto entre os poderes públicos e a sociedade, mudanças na estrutura política do país, na saúde e na educação, prestação de contas sobre a Copa e um novo plano de mobilidade para as cidades.
Mas, é preciso acrescentar, dentro da democracia e da Constituição, sem conciliar ou aceitar a violência, seja de grupos de direita ou paramilitares, seja das PMs e muito menos de saqueadores e vândalos. Sem conciliar com os que pretendem, mesmo às custas de destruir a democracia, nos apear do governo e do poder, na vã ilusão de que podem apagar as mudanças em benefício do povo e do país nos últimos dez anos.
Do Blog do José Dirceu
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