sábado, 25 de maio de 2013

Candidato no Irã promete linha dura contra o Ocidente

 

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

 Folha de S.Paulo

Em seu primeiro discurso oficial de campanha, o ultraconservador tido como candidato favorito do líder supremo na corrida presidencial iraniana prometeu uma política linha dura contra pressões ocidentais caso eleito.

"Concessões causam miséria e devastação", disse Saeed Jalili, 47, que passou os últimos seis anos dialogando com as potências por ser chefe negociador iraniano no dossiê nuclear.

Lendo seu discurso de forma pausada, Jalili pediu que a votação, marcada para 14 de junho, ajude a reforçar a "resistência", tema central de sua fala diante de 3.000 simpatizantes que lotaram um ginásio no centro de Teerã.

O lema sugere que o Irã, caso Jalili vença, continuará jogando sobre as potências ocidentais a responsabilidade de fazer concessões no diálogo nuclear e apoiando aliados anti-Israel.

"Procuramos secar as raízes do regime sionista e dos sistemas capitalista e comunista. Em vez disso, promovemos o sistema islâmico", afirmou Jalili, arrancando do público aplausos e gritos de "Morte à América".

A maioria dos simpatizantes era de homens barbudos residentes em bairros populares. Muitos usavam anéis de oração nos dedos, sinal de devoção religiosa entre xiitas. As mulheres, quase todas cobertas pelo chador, véu preto integral, estavam confinadas a um canto da arquibancada, ostentando cartazes de apoio a Jalili.

Militantes nas alas masculina e feminina agitavam bandeiras da Palestina e do grupo armado libanês Hizbullah, arqui-inimigo de Israel.

Antes do discurso de Jalili, alto falantes emitiam antigas músicas à glória dos soldados e voluntários mortos durante a guerra contra o Iraque do então ditador Saddam Hussein (1980-1988).

O conflito, que deixou um milhão de mortos, é amplamente tido como marco ideológico na vida de Jalili, que combateu como voluntário e perdeu parte da perna direita na batalha.

A desconfiança de Jalili em relação ao Ocidente deriva em grande parte do apoio de EUA e França a Saddam Hussein, que iniciou o conflito ao invadir o Irã e usou armas químicas contra populações iranianas.

Veteranos da guerra ocupavam ontem lugar de honra no ginásio. Um deles, Morteza Taheri, disse à Folha ter combatido ao lado de Jalili.

"O conheço bem e sei que ele é capaz [de presidir o país", afirmou.

Taheri e muitos outros simpatizantes dizem ter votado em Mahmoud Ahmadinejad, reeleito em meio a suspeitas de fraude, em 2009. Mas o presidente perdeu o apoio dos conservadores por promover uma agenda liberal e contestar a autoridade do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, detentor da palavra final no país.

Impedido de concorrer por causa da limitação de mandatos, Ahmadinejad tentou emplacar um aliado na disputa, mas seu candidato foi barrado pelo órgão do regime que avalia aspirantes a cargos eletivos.

Não formalizado, mas notório, o apoio do líder supremo a Jalili é atribuído à discrição e irrestrita lealdade do diplomata ao regime.

"Jalili obedece o líder e acredita nos ideias da revolução islâmica", disse à Folha a estudante em teologia Zahra Sobhani, 24.

Numa manobra criticada dentro e fora do Irã, o regime barrou candidatos que o contestavam. A disputa hoje reúne oito presidenciáveis, dos quais seis conservadores.

Vahid Salemi/Associated Press

Apoiadores de Saeed Jalili exibem cartazes com foto do candidato à Presidência do Irã

Apoiadores de Saeed Jalili exibem cartazes com foto do candidato à Presidência do Irã

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