Por Cristiane Jungblut (crisjung@bsb.oglobo.com.br) | Agência O Globo
BRASÍLIA - A viagem da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos, que se inicia hoje, será marcada por discursos que pretendem conjugar suas credenciais pessoais - como o fato de ser mulher - com a atual situação do Brasil diante de um cenário de crise econômica mundial. Primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU, Dilma deverá mostrar políticas adotadas pelo Brasil para vencer dificuldades econômicas do cenário internacional, citando a ascensão dos mais pobres à classe média. E poderá adotar posições ainda mais claras no cenário internacional, como uma defesa mais enfática da criação do Estado Palestino.
Mas a estratégia de mostrar o sucesso de programas brasileiros, inclusive na área da Saúde, entra em conflito com uma realidade interna bem diferente: o debate sobre os problemas de financiamento e gestão do setor.
Há também um esforço para evitar que o encontro sobre transparência governamental - um dos debates temáticos de Dilma na ONU - seja contaminado pela crise de queda de ministros por denúncias de irregularidades. Ou pela demora do Congresso para aprovar a Lei de Acesso à Informação e a Comissão da Verdade. O governo nega que o adiamento da votação causará embaraços para Dilma.
Há a expectativa do Planalto de que na quarta-feira, dia do discurso de Dilma na sede das Nações Unidas, a Câmara aprove a Comissão da Verdade. A aprovação desse projeto é considerada um "plus" na passagem da presidente pelos EUA.
No plano internacional, a presidente quer reforçar a posição do Brasil sobre a questão palestina, já que em dezembro o país reconheceu a existência do Estado Palestino. O governo brasileiro já tem essa posição histórica, mas ela será explicitada por Dilma. O Brasil reconheceu o Estado Palestino em carta enviada pelo ex-presidente Lula à Autoridade Nacional Palestina.
A expectativa é que esta se torne, de fato, a viagem mais importante desde que Dilma tomou posse, pois terá oportunidade de falar dos temas do momento, da instabilidade política no mundo árabe e da crise financeira global. A presidente Dilma ficará nos EUA quase uma semana. Serão cinco dias, começando neste domingo com agenda privada, quando deverá passear pela cidade com a filha, Paula. Dilma retorna ao Brasil apenas na quinta-feira à noite.
Dilma terá encontros com Obama e Sarkozy
Para o professor Virgílio Arraes, que leciona História Contemporânea na UnB, o fato de a presidente ser a primeira mulher a discursar será apenas um simbolismo, mas não são esses os temas de interesse das discussões.
- O presidente do Brasil abrir o encontro é uma tradição. Os temas são a questão econômica, se o Brasil vai baixar juros, vai crescer, vai conseguir realizar a Copa do Mundo - disse o professor.
Dilma também terá encontros bilaterais, com destaque para a audiência com o presidente americano Barack Obama, prevista para terça-feira. Outro encontro de destaque será com o presidente da França, Nicolas Sarkozy. O principal tema deverá ser a questão da compra ou não dos caças franceses pelo Brasil, assunto arquivado pela presidente no início do ano.
Dilma terá pelo menos quatro encontros, todos pedidos pelos chefes de Estado. Além de Obama e Sarkozy, estão na lista o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o presidente do México, Felipe Calderón.
Na segunda-feira, a presidente participa de duas mesas-redondas na ONU, sobre "Doenças crônicas não transmissíveis" e sobre "Participação política de mulheres". O convite para a participação nesse debate foi da ex-presidente chilena Michelle Bachelet. Dilma deverá falar de sua própria trajetória, já que o tema é como encorajar a inclusão de mulheres em sistemas de representação política.
Na terça-feira, Dilma participará de mesa-redonda sobre transparência nos governos e terá o encontro com Obama. Apesar das denúncias que afetaram o primeiro escalão do governo Dilma, diplomatas e ministros sustentam que a imagem da presidente lá fora também é de alguém fortemente comprometido com o combate à corrupção.
Além disso, lembram que o Brasil foi convidado para essa mesa-redonda por iniciativas como o Portal da Transparência, mantido pela Controladoria Geral da União (CGU). Em 2012, o encontro "Parcerias para um governo aberto" será no Brasil. Na quarta-feira, Dilma manterá a tradição de o presidente do Brasil discursar na abertura da reunião da ONU. Deverá falar sobre como o Brasil tem adotado programas sociais de sucesso e, na crise, mostrar a chamada "politica de desenvolvimento do Brasil com inclusão social".
Ao falar sobre crise econômica global, a presidente deverá manter o tom duro que teve em encontros internacionais recentes, criticando a falta de reforma do sistema financeiro, algo que deveria ter sido feito depois da crise econômica de 2008.
O tom final do discurso - mais incisivo ou não - será dado pela própria presidente. Apenas um esboço inicial já foi elaborado e discutido com seus colaboradores. Na comitiva, estarão os ministros Antônio Patriota (Relações Exteriores), Orlando Silva (Esportes), Alexandre Padilha (Saúde), Izabela Teixeira (Meio Ambiente), Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Helena Chagas (Comunicação). Deverão ainda se somar ao grupo o ministro da CGU, Jorge Hage, entre outros.
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