quarta-feira, 14 de agosto de 2013

No Ceará, 60% da água distribuída em carro-pipa é contaminada

“Na Dinamarca cearense, só se chega com carro grande e encarando a poeira que sobe na estrada. Ao contrário do país nórdico, a Dinamarca cearense está longe do mar. A localidade fica a uns 10 km da sede do município de Santa Quitéria, no Sertão. E ali, nestes tempos de céu sempre aberto, só o carro-pipa salva. O que está garantindo água na casa de Maria Soares Mesquita, 55, e em outras sete moradas da comunidade chegou na última quinta-feira – para alegria da dona de casa, que garante: a água entregue ali é de qualidade. “A gente vê que é boa.”

A “garantia” da dona de casa, porém, não está refletida em relatório elaborado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Em maio, o órgão analisou 381 amostras de água de 28 municípios (os únicos que possuem carros-pipas cadastrados no sistema de informação e coletaram amostras) e concluiu que 60% das amostras estavam contaminadas: 18% (70) com a bactéria Escherichia coli e 42% (160) com coliformes totais.

O coordenador de Promoção e Proteção à Saúde do Estado, Manoel Fonsêca, cita que a má qualidade da água interfere na saúde. “Temos aumento de casos de diarreia. Infelizmente, a água ofertada (por carros-pipa) é de reservatório superficial, como açudes, que, normalmente, não são cercados, e as pessoas usam para outros fins”.

O Estado distribui hipoclorito de sódio para o tratamento domiciliar da água. Porém, cita a supervisora de Vigilância em Saúde Ambiental, Gláucia Norões, esse tratamento deveria ser complementar, não único. Solução para o problema, indicam Gláucia e Manoel, seria a aquisição de estações de tratamento de água móveis, equipamentos que tratam mesmo a água retirada de mananciais superficiais.

Enquanto não há estações móveis, as pastilhas de cloro devem ser utilizadas pelos pipeiros, frisa Manoel Fonsêca. Valmir Benevinut sabe disso. Pipeiro que deixou água, semana passada, para as casas da Dinamarca cearense, ele pega 8 mil litros d’água no rio Guaíra, em Santa Quitéria (porque “só tem de lá pra tirar”), e coloca duas “pedras de cloro” no tanque. “Aí vem limpando a água”, explica. “É bem tratada e a gente ainda filtra”, confirma o agricultor Francisco Tributino da Silva, 43, morador da localidade.

Enquanto acompanha o despejo da água na frente de casa, a dona de casa Maria agradece e sonha: “Graças a Deus tem pelo menos essa água. Estou pedindo a Deus que chegue o inverno e venha água pra gente.” Amém, dona Maria.”

(O POVO)

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