domingo, 18 de dezembro de 2011

Brasil resiste à crise

 

O efeito da crise europeia na economia brasileira equivale a cerca de 20% do que foi a crise em 2008, mas o pior momento em termos de atividade econômica nas economias maduras ainda está por vir - na virada do primeiro para o segundo trimestre do ano que vem. E o saldo líquido da crise será uma perda de algo próximo a 1,5 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2012. Mas isso não muda as perspectivas para o Brasil, porque o país tem comprovadas virtudes e capacidade de resistência.

Duas das virtudes são a baixa dependência de exportações para economias maduras e concentração de exportações em commodities ou quase commodities. Além disso, é um luxo exibir uma relação dívida/PIB em queda em um momento onde o grande problema dos países desenvolvidos é justamente o aumento dessa mesma relação. A análise é de Octavio de Barros, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, para quem cerca de 80% da desaceleração da atividade brasileira é explicada por fatores domésticos. “Foi a política econômica que desejou a desaceleração observada com um conjunto de medidas para segurar a demanda”. O economista considera que os vasos comunicantes estão presentes sobretudo por ser a economia brasileira muito aberta financeiramente e a maior produtora de commodities do mundo.

Essa combinação tende, portanto, a abater o crescimento econômico brasileiro no próximo ano. Ainda assim, pondera Barros, a atividade estável por aqui no terceiro trimestre é algo irrelevante do ponto de vista da leitura dos agentes sobre o futuro. O investimento mesmo sendo uma variável cíclica, seguirá relativamente insensível à desaceleração de curto prazo na economia doméstica.

As perspectivas para o Brasil são positivas, explica o economista-chefe do Bradesco, que sugere uma lista de indutores do crescimento em 2012. “Não podemos subestimar o impacto do afrouxamento monetário em curso sem precedentes que já coloca a atual taxa real de juros como a menor da história. Os canais de transmissão da política monetária para a atividade foram rompidos nas economias maduras, mas no Brasil isso está muito longe de ter ocorrido.”

A reversão parcial das medidas macroprudenciais, o aumento dos investimentos públicos em infraestrutura, sobretudo o ápice daqueles relacionados à Copa em 11 regiões metropolitanas, a expectativa de um BNDES mais ativo, as eleições municipais, um mercado de trabalho ainda apertado e o aumento significativo do salário mínimo completam os ingredientes para a retomada.

“Não bastasse isso, as recentes medidas de redução da taxação sobre ingressos de capitais, desoneração de IOF do crédito, redução de IPI de determinados bens duráveis, os estímulos setoriais etc, poderão reforçar nossa previsão atual de 3,7% para o crescimento de 2012. Tudo isso em um ambiente onde a confiança do empresário não industrial está praticamente intacta e a dos consumidores em alta e em níveis bem acima daqueles pré-crise do Lehman Brothers”, diz Barros.

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