Organismos econômicos já questionam a fronteira entre nações ricas e emergentes
JAMIL CHADE, CORRESPONDENTE / GENEBRA – O Estado de S.Paulo
Numa recente edição dedicada à alimentação, a revista The Economist foi clara: “Quando o mundo era simples, rico era gordo e pobre era magro”. Hoje, a complexidade da cadeia alimentar transformou essa fronteira, com milhares de países ditos pobres vivendo o problema da obesidade, enquanto é justamente nos países ricos que a alimentação saudável ganha força.
Mas não é apenas no mundo da alimentação que as fronteiras entre países ricos e países em desenvolvimento começam a ser questionadas. Um levantamento feito pela reportagem do Estado nos principais organismos econômicos revela uma verdadeira transformação na posição de países emergentes no mapa econômico nos últimos 20 anos, obrigando multinacionais, bancos e governos a redefinirem suas prioridades, além do equilíbrio de poder.
Nem a ONU, nem entidades assistenciais deixam de alertar: o crescimento das economias emergentes ainda não significa o fim da miséria. Ao contrário. Em muitos desses países, a diferença entre a camada mais rica e a mais pobre nunca foi tão pronunciada. Em resumo: ser a sétima economia do mundo ajuda. Mas nem em uma miragem resolve décadas de profundos problemas sociais, desigualdades e ineficiências estruturais.
A Espanha pode ter 24% de desemprego e ser hoje um país que pede resgate. Mas conta com educação e saúde públicas para todos, mesmo que muitos já se perguntem quanto tempo isso vai durar. Pelo Índice de Desenvolvimento Humano- indicador apontado como sendo a real medida de bem-estar das sociedades -, as economias ditas “emergentes” nem sequer aparecem perto dos líderes, lugares reservados há anos para países nórdicos e demais europeus.
Um estudo exclusivo da consultoria Roland Berger, obtido com exclusividade pelo Estado, aponta que economias desenvolvidas gastam um terço do Produto Interno Bruto (PIB) em sistemas sociais. Na China, esse segmento recebe apenas 6% do PIB, enquanto na Rússia, 12%.
Ainda assim, os sinais de uma transição para um novo mapa-múndi da economia não podem ser ignorados. Por vários indicadores, os emergentes desbancaram nos últimos anos tradicionais potências, causando mal-estar em poderes consolidados e obrigando um repensar de certas fronteiras.
Hoje, Europa, Japão e Estados Unidos representam o menor peso na economia mundial nos últimos 50 anos, segundo dados da OCDE. O pico, no caso americano, foi em 1960. O mundo ainda não havia totalmente superado as sequelas da Segunda Guerra Mundial e a economia dos Estados Unidos representava 38,6% do PIB do planeta. Em 2011, essa taxa cairia para 21%, seu ponto mais baixo desde então.
No caso europeu, a queda foi de um pico de 34% em 1980 para atuais 25%. A Alemanha, que em 1969 representava 8,9% da economia mundial, hoje tem uma parcela de apenas 5,8%. A economia japonesa representava 17% do PIB mundial em 1994. Em 2011, era apenas 8%. Em 2010 e 2011, França, Reino Unido e Itália registraram a menor fatia no PIB mundial em sua história contemporânea.
Alguns países emergentes seguiram uma tendência contrária. Em 1987, a China representava apenas 1,6% da economia mundial. Hoje, tem quase 10% e o segundo PIB do planeta. Já a Coreia do Sul, que tinha apenas 0,1% do PIB mundial em 1965, hoje representa 2%. Em 1969, a economia brasileira tinha 1,5% do PIB mundial. Hoje, se aproxima de 3%, ameaçando desbancar a França na sexta posição.
“75% do crescimento mundial nos últimos cinco anos ocorreu graças aos países emergentes”, confirmou Jaime Caruana, diretor-gerente do Banco de Compensações Internacionais, o BC dos BCs.
Indicadores. O peso na economia mundial não seria o único indicador da necessidade de redesenhar o mapa-múndi. Segundo dados da Organização Mundial do Comércio, metade do fluxo de exportações hoje é realizado por países emergentes. A China, que em 1990 não estava nem entre os dez maiores exportadores, é hoje o maior vendedor do planeta e dona da maior produção industrial.
Na lista dos dez primeiros produtores industriais, quatro são emergentes. Em termos de reservas externas, países hoje como o Brasil acumulam mais reservas que toda a zona do euro. Já a China tem um terço das reservas mundiais -US$ 3,1 trilhões.
Tags: Crescimento, ONU, paises desenvolvidos, países emergentes, PIB
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