ALESSANDRA CORRÊA
DA BBC BRASIL, EM WASHINGTON
A chamada "supercomissão" do Congresso americano, que tinha como objetivo fechar um acordo para cortar US$ 1,2 trilhão (cerca de R$ 2,1 trilhões) no Orçamento em um prazo de dez anos, fracassou em suas negociações e aumentou o nervosismo nos mercados globais, já assustados com a crise na Europa.
Criada em agosto, em meio ao acordo de última hora que permitiu elevar o teto da dívida pública americana, a supercomissão é formada por seis democratas e seis republicanos e tem prazo até quarta-feira para apresentar uma proposta.
Para que esse prazo fosse cumprido, porém, seria necessária a apresentação de uma proposta ainda nesta segunda-feira, para que fosse submetida ao escritório de Orçamento do Congresso 48 horas antes da data final.
No entanto, nos últimos dias já ficou claro que o grupo não vai conseguir chegar a um consenso, e membros dos dois partidos vêm trocando publicamente acusações sobre os motivos do fracasso.
As divergências são as mesmas já manifestadas em outras negociações no Congresso: de um lado, os republicanos se recusam a aumentar impostos; de outro, os democratas não aceitam determinados cortes em programas sociais.
Com o fracasso da supercomissão, crescem os temores de que agências de classificação de risco reduzam a nota dos Estados Unidos, a exemplo do que a Standard & Poor's fez em agosto, quando um outro impasse no Congresso - desta vez para negociar a elevação do teto da dívida - quase levou o país ao calote.
Também aumentam as dúvidas sobre a saúde da economia americana, que, em meio ao impasse político, enfrenta níveis baixos de crescimento, altas taxas de desemprego, e uma dívida que não para de crescer e já chega a US$ 15 trilhões (cerca de R$ 27 trilhões).
As dúvidas se refletiram nos mercados financeiros nesta segunda-feira. Wall Street operava em queda, com os problemas nos Estados Unidos somados à crise na Europa. A Bovespa também operava em queda de - 1,57% por volta das 16h (horário de Brasília).
DIVERGÊNCIAS
Um dos principais pontos de divergência quanto ao deficit dos EUA é a manutenção de um plano de isenção fiscal para milionários, implementado ainda no governo de George W. Bush.
Os democratas e o presidente Barack Obama insistem em encerrar o programa, enquanto os republicanos pretendem renová-lo.
A falta de consenso na supercomissão significa que os US$ 1,2 trilhão serão cortados automaticamente a partir do início de 2013, metade na área de Defesa e metade em programas domésticos.
Segundo alguns analistas, esse prazo daria tempo para que os congressistas chegassem a uma solução antes de que os cortes fossem realmente implementados. Também explicaria a falta de mais empenho por parte dos membros da supercomissão em chegar a um acordo.
No entanto, um novo fracasso fruto da divisão política nos Estados Unidos pode prejudicar ainda mais a imagem do país no Exterior e aumentar a frustração dos americanos com o governo e o Congresso.
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