Alfredo Neres é missionário comboniano em Kinshasa, na República Democrática do Congo.
Qual a sua opinião sobre a recente decisão do Papa Bento XVI de que a Igreja aceita, pela primeira vez, o uso do preservativo em casos pontuais, como o da prostituição?
É-me difícil tomar uma posição, ou fazer um comentário, sobre o tema, porque estou aqui em Kinshasa [capital da RD Congo] e ainda não li nada sobre o assunto, não vi o documento nem sabia tão-pouco que o Papa tinha tomado essa decisão.
A afirmação consta do livro Luz do Mundo, que será lançado no início de Dezembro. Mas, continuando com a nossa conversa, concorda que o preservativo seja usado em casos de prostituição?
Aqui não temos prostituição organizada, os casais encontram-se na rua e depois vão para umas casas...
Bom, isso é uma forma de organização. Pensemos noutra situação: imagine-se os doentes com sida, não seria um grupo a quem o preservativo deve ser aconselhado, fornecido, avalizado pela própria Igreja?
Sabe, aqui as coisas são um pouco diferentes do mundo daí. Por exemplo, 90% das pessoas doentes com sida não acreditam que a doença se transmite, portanto, não se preocupam em utilizar preservativos, acreditam que a doença é simplesmente fruto de magia, de bruxedo.
E o que é feito para mudar essa situação?
Há uma grande campanha do Estado para modificar as coisas.
E a Igreja o que tem feito?
Associa-se ao Estado nos tratamentos. Por outro lado, a intensa propaganda que tem acontecido e está a acontecer por parte do Estado e das igrejas tem levado muitos jovens a optarem por chegar virgens ao casamento....
Uma questão de fé?
Não. A idéia de que se adoecerem podem não ter filhos e isso é o maior trauma para um casal aqui.
Mas, numa situação de doença, a Igreja não seria capaz de aconselhar o uso do preservativo mesmo antes desta decisão de Bento XVI?
Normalmente, esse conselho não é dado, mas num caso de doença grave já aconteceu. Mas há um outro problema que não é de menor importância: os que têm a doença não querem dar a conhecer a situação, porque não querem ser apontados pelos outros e querem continuar a viver à vontade.
Há uma idéia aproximada de quantas pessoas estão doentes com sida?
Não sei , é uma estatística que nem está feita.
As violações em áreas de conflito poderiam ser um dos casos em que a utilização do preservativo seria aceite pela Igreja?
Os militares ou as milícias não anunciam quando chegam, não trazem uma arma na mão e um preservativo na outra...
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