segunda-feira, 14 de julho de 2014

Vocação para receber

 

Se dúvida havia sobre a vocação do Brasil para o turismo, a Copa 2014 a enterrou. O encantamento dos estrangeiros que vieram ao pais para a festa do futebol é prova de que há futuro nessa indústria, que, no ano passado, contribuiu com 9,5% do Produto Interno Bruto (PIB) global. E deve bater 10,5% até 2024, estima o World Travel and Tourism Council (WTTC), entidade internacional do setor. Bastian Schweinsteiger e Manuel Neuer, craques da da Alemanha, são evidências do diagnóstico. Desde a chegada à Bahia, onde estão concentrados, interagem com os moradores. Fizeram por merecer a alcunha de Novos Baianos, referência à festejada integração aos locais e ao quarteto de bambas que de lá saiu. Em passagem pelo Rio para jogar as quartas de final com a França, o atacante Lukas Podolski se esmerou em declarações de amor à cidade. Com os holandeses, foi parecido. Arjen Robben, Wesley Sneijder e companhia se acomodaram no coração de Ipanema e, em dois dias, estavam a caminhar pela praia e jogar frescobol à beira-mar, no melhor estilo “Menino do Rio”.

A rigor, nem precisava dos craques. Além deles, uma legião de estrangeiros tomou a dúzia de cidades-sede no par de meses da temporada de Copa. Vieram de avião, mas também de carro, ônibus, motorhome e até de motocicleta. Inauguraram um inesperado modelo de visitação. Os sul-americanos, estimulados pela proximidade geográfica, cruzaram fronteiras, como fazem os europeus desde sempre. A motivação foi o futebol, mas as boas lembranças podem fazê-los voltar para outros roteiros de turismo familiar ou de negócios. A Copa também abriu o país para nacionalidades pouco vistas, caso de mexicanos (embarcados em navios!), australianos e indianos. E o que dizer da vinda, aos milhares, dos americanos?

Bem antes da Copa, consultas a turistas sempre indicaram que a hospitalidade do povo é o ponto forte do pais. Supera menções às manifestações culturais e às belezas naturais. Suplanta até as deficiências de infraestrutura e serviços, sublinha a consultora Jeanine Pires. Significa que valorizam, sobretudo, a convivência, capital intangível nato dos brasileiros. Assim, fundamental é aprimorar a estrutura de recepção, para que a boa imagem recém-construída não se perca. O rol inclui eficiência dos aeroportos e demais opções de mobilidade; qualidade e preço justo em hospedagem e alimentação, inclusive para o turismo rodoviário; sinalização adequada de vias e pontos turísticos; mão de obra bem treinada.

Ex-presidente da Embratur, Jeanine concorda que a Copa abriu nova perspectiva para a indústria do turismo no Brasil. O país, lembra, foi 9º no mundo em congressos e convenções, em 2013. No ranking das 20 cidades que mais recebem esses eventos, não há nenhuma brasileira. Buenos Aires é a única latino-americana. Ano passado, o Brasil alcançou a marca de seis milhões de visitantes estrangeiros. É menos do que recebeu Roma (8,6 milhões), 10ª no mundo.

O Mundial 2014 e, daqui a pouco, os Jogos 2016 podem mudar o quadro. Ao provar que é capaz de organizar as duas maiores competições esportivas do planeta, o Brasil se credencia a receber, na esteira, grandes eventos corporativos e culturais. Quem faz o carnaval do Rio, de Salvador e de Olinda, quem produz a Festa do Boi de Parintins e, agora, Copa e Olimpíadas pode sonhar com muito mais em turismo. É o caso de acreditar e investir, como já se fez com petróleo e gás, fabricação de aviões e agronegócio. (Flávia Oliveira – Jornal O Globo)

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