Redação do Site Inovação Tecnológica
"Estes resultados são verdadeiramente sensacionais", comemora a Dra. Caroline Leck, da Universidade de Estocolmo. [Imagem: RCN/Shutterstock]
Resultados sensacionais
Segundo pesquisadores noruegueses, a possibilidade de que o aquecimento global se mantenha abaixo dos 2°C até o fim do século é muito mais factível do que se imaginava.
E o alerta não vem dos chamados "céticos", que não aderiram ao consenso do aquecimento global, mas de um pesquisador que figura como um dos principais autores do relatório do IPCC de 2007.
A equipe apresentou ainda elementos que levam a crer que a participação do homem no aquecimento global é menor do que se imaginava.
"Estes resultados são verdadeiramente sensacionais", comemora a Dra. Caroline Leck, da Universidade de Estocolmo. "Se forem confirmados por outros estudos, estes resultados deverão ter impactos de grande alcance sobre os esforços para atingir as metas políticas para o clima."
Aumento da temperatura está se estabilizando
Depois de subir acentuadamente na década de 1990, a temperatura média da superfície da Terra se estabilizou quase completamente no nível registrado no ano 2000.
E isso apesar do fato de que as emissões de CO2 e outros fatores antropogênicos que se acredita contribuírem para o aquecimento global ainda estejam em ascensão.
É essa tendência pós-2000 que fez com que os cálculos dos pesquisadores noruegueses para o aquecimento global destoassem tanto dos números divulgados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que deve publicar sua própria análise sobre esses novos dados no decorrer deste ano.
Sensibilidade climática
A sensibilidade climática é uma medida de quanto a temperatura média global deve aumentar se continuarmos aumentando as nossas emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera.
O CO2 é o principal gás de efeito estufa emitido pela atividade humana, ainda que não seja o mais forte individualmente.
Uma maneira simples de medir a sensibilidade climática é calcular quanto a temperatura média do ar vai aumentar se dobrarmos o nível de emissões globais de CO2 em comparação com o nível do mundo pré-industrializado, por volta do ano 1750.
Se o ritmo atual de emissão de CO2 se mantiver, essa duplicação do nível de CO2 na atmosfera será atingida por volta de 2050.
O aquecimento a longo prazo é muito claro. O que os pesquisadores argumentam é que o nivelamento da tendência de aquecimento verificada depois de 2000 (no destaque), altera todas as previsões do aquecimento global futuro. A década de 1940 apresentou comportamento semelhante. [Imagem: NASA]
Mecanismos de feedback
São vários os fatores que afetam o clima. A complexidade do sistema climático é ainda agravada por um fenômeno conhecido como mecanismo de feedback, ou seja, como fatores como nuvens, evaporação, neve e gelo afetam mutuamente um ao outro.
As incertezas sobre as consequências globais dos mecanismos de feedback tornam muito difícil prever o quanto do aumento na temperatura média da superfície da Terra deve-se às emissões feitas pelo homem.
Segundo o IPCC, a sensibilidade climática para níveis de CO2 atmosférico duplicados em relação à era pré-industrial fica entre 2°C e 4,5°C, com a maior probabilidade ficando em 3°C de aquecimento.
No estudo norueguês, no entanto, os pesquisadores chegaram a uma estimativa de 1,9°C como o nível mais provável do aquecimento se os níveis atuais de emissão se mantiverem.
Laboratório gigante
"Nós usamos um método que nos permite visualizar a Terra como um 'laboratório gigante', onde a humanidade tem realizado um experimento coletivo por meio de nossas emissões de gases de efeito estufa e de particulados, desmatamento e outras atividades que afetam o clima," explicou o professor Terje Berntsen, coordenador do projeto e um dos autores principais do relatório do IPCC de 2007.
Em sua análise, o professor Berntsen e seus colegas incluíram todos os fatores conhecidos que contribuem para as mudanças climáticas induzidas pelo homem desde 1750.
Além disso, eles incluíram flutuações climáticas causadas por fatores naturais, como erupções vulcânicas e atividades solares. Eles também incluíram medições de temperaturas coletadas no ar, no solo e nos oceanos.
Os pesquisadores usaram um modelo climático único, cujos cálculos foram repetidos milhões de vezes, a fim de formar uma base para a análise estatística.
Comparação com os dados do IPCC
Quando os pesquisadores aplicaram seu modelo para analisar os dados para o período que terminou em 2000, eles descobriram que a sensibilidade do clima a uma duplicação da concentração de CO2 atmosférico seria mais provavelmente de 3,7°C, que é um pouco mais do que o prognóstico feito pelo IPCC com base nos mesmos dados.
Mas a surpresa veio quando eles incluíram os dados da década 2000-2010: a sensibilidade climática foi muito menor, chegando, segundo eles, "a um mero 1,9°C".
O professor Berntsen salienta que este aumento provável de temperatura só seria sentido bastante tempo depois que fosse atingido o dobro de concentração de CO2 (comparado a 1750) e que esse nível fosse mantido por um longo período, uma vez que os oceanos atrasam o efeito por várias décadas.
Mudanças naturais
O dado de 1,9°C como previsão do aquecimento global a partir de uma duplicação da concentração de CO2 na atmosfera é uma média, assim como o dado do IPCC.
Quando os pesquisadores calcularam um intervalo de probabilidades do que pode ocorrer, incluindo observações e dados até 2010, eles determinaram com 90% de probabilidade que o aquecimento global a partir de uma duplicação da concentração de CO2 ficará entre 1,2°C e 2,9°C.
Mas mesmo o máximo de 2,9°C para o aquecimento global é substancialmente mais baixo do que as estimativas anteriores, que chegavam a 4,5°C.
"A temperatura média da Terra aumentou acentuadamente durante a década de 1990. Isso pode ter-nos levado a superestimar a sensibilidade climática," disse o professor Berntsen.
"Estamos mais provavelmente testemunhando flutuações naturais no sistema climático - alterações que podem ocorrer ao longo de várias décadas - e que estão no topo de um aquecimento de longo prazo. As mudanças naturais resultaram em um rápido aumento da temperatura global nos anos 1990, enquanto que as variações naturais entre 2000 e 2010 podem ter resultado no nivelamento que estamos observando agora," analisa o pesquisador.
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