Segundo estimativas, gasto com armas pode cair até 15% em meados da década, maior redução desde fim da Guerra Fria
Jamil Chade - CORRESPONDENTE / GENEBRA
GENEBRA - A crise econômica obrigou os países da Otan a fazer o maior corte de gastos militares desde o fim da Guerra Fria, há 20 anos. Na quinta-feira, o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou uma redução de US$ 450 bilhões nos próximos dez anos. Na Europa, porém, os cortes têm sido constantes e ainda maiores em termos proporcionais.
Ahmad Nazar/AP
Gerard Longuet, ministro de defesa da França, discursa para tropas da Otan
Segundo estimativas, os países da aliança atlântica podem chegar em meados da década gastando até 15% a menos em armas. Na Grã-Bretanha, o governo propôs um corte de 8% até 2015, uma redução de US$ 45 bilhões. Encomendas foram canceladas, o desenvolvimento de novas armas foi adiado e o Exército será reduzido em 17 mil homens.
Na Alemanha, os cortes serão os maiores desde a 2.ª Guerra. Até 2013, o país reduzirá seus gastos em 6%. Por ano, isso representa uma redução de 9 bilhões. Berlim ainda reduzirá o número de soldados em 40 mil e também deve cancelar a compra de aviões e navios.
Entre 2011 e 2013, a França espera reduzir seus gastos militares em 3,5 bilhões. Em Madri, o rei Juan Carlos disse ontem que a era de austeridade não poupará os militares. No orçamento de 2012, 340 milhões do Ministério da Defesa foram cortados. Na Espanha, o que mais preocupa são as dívidas acumuladas pelo Exército.
No início da década, Madri modernizou sua capacidade militar, comprometendo até 2025 mais de 30 bilhões, 3% do PIB espanhol. Até hoje, pagou só 5 bilhões e alguns dos equipamentos podem ser devolvidos.
"A maioria dos países europeus cortou gastos militares em 2011", disse ao Estado Samuel Perlo-Freeman, do Instituto de Pesquisa Paz Internacional de Estocolmo (Sipri). Em 2010, segundo ele, a Europa reduziu 2,8% de seu orçamento militar. "É uma tendência para os próximos anos."
Os cortes fizeram o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, alertar que aliança deve perder influência e espaço para países como China e Índia. Para Freeman, porém, a crise pode ser uma oportunidade para que a Europa repense sua estratégia de defesa e opte por operações conjuntas. "Já há sinais disso", disse.
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