domingo, 23 de julho de 2023

Pacificar o Brasil passa pela punição dos que atacaram a democracia

Há dois anos e quase sete meses, o mundo assistiu, estarrecido, ao vivo e a cores como se dizia antigamente, a invasão do prédio do Congresso dos Estados Unidos, incentivada pelo então presidente republicano Donald Trump, derrotado pelo democrata Joe Biden.

Fazia muito frio em Washington naquele 6 de janeiro de 2021. Os católicos celebravam o Dia de Reis, data em que, segundo a tradição cristã, os Três Reis Magos visitaram o recém-nascido Jesus de Nazaré. Trump disse que a eleição lhe fora roubada.

Dali a 14 dias. Biden, o segundo presidente católico do país (o primeiro foi John Kennedy), tomaria posse, e era isso que Trump e seus seguidores brancos da extrema-direita queriam impedir. Fracassaram. Nem por isso a democracia por lá está segura.

O país de 2021 quase rachado ao meio está da mesma forma. E Trump, apesar de responder na justiça a 37 acusações por sete crimes, é o nome dos republicanos com mais chances de disputar as eleições presidenciais do próximo ano, outra vez contra Biden.

O governo Biden está perto do fim sem que ele tenha conseguido pacificar os Estados Unidos. Tentou e continua tentando, mas não depende só dele. O país segue aos pedaços, sem dar sinais de paz. E pela lei, Trump poderá ser eleito e governar mesmo preso.

Aqui, Bolsonaro ficou inelegível até 2030. O prazo poderá se estender se for condenado em mais um dos 15 processos que ainda responde. É provável que seja. Não é que acabe preso. Mesmo depostos, Fernando Collor de Mello e Dilma não foram presos.

Michel Temer foi por poucos dias. Lula, por 580 dias. Prender Bolsonaro por alguns meses ou mais de um ano seria transformá-lo em mártir da extrema-direita, e de parte da direita que, por vergonha do que de fato é, apresenta-se como direita civilizada.

O golpe do 8 de janeiro, em breve, completará sete meses, apenas. Ainda não foi desvendado de todo. Demorará a ser. Nos Estados Unidos, alguns golpistas foram condenados e presos, mas restam muitos a ser julgados. Aqui, restam quase todos.

O ideal de pacificação do país deve ser perseguido como ideal, mesmo contra todas as evidências de que não será alcançado tão cedo – se é que um dia será. A extrema-direita avança em quase todas as partes do mundo, especialmente na Europa.

Na Espanha, o Partido Popular, de direita, tem tudo para vencer a eleição deste domingo, mas para que governe vai depender do Vox, partido da extrema-direita. Os dois, juntos, já governam regiões autônomas da Espanha onde a liberdade está sendo minada.

É irrealista cobrar de Lula que suavize ou mude seu discurso sobre o perigo que a democracia correu nos últimos quatro anos e, especialmente, no 8 de janeiro; e da justiça, que encerre logo os inquéritos abertos para apurar e punir os golpistas.

A justiça é lenta, como se sabe, mas sempre foi assim. Não é necessariamente ruim que seja. Uma justiça apressada produz muitas vítimas inocentes.

 
Fonte:  https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/ricardo-noblat/pacificar-o-brasil-passa-pela-punicao-dos-que-atacaram-a-democracia

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário