sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O legado de Mandela é o da justiça humana e ambiental

 

por Lúcia Chayb e René Capriles, da Eco21

ECO 21 205 capinha O legado de Mandela é o da justiça humana e ambiental

King Protea, flor típica do Table Mountain. Foto: Protea Atlas Project

Já está circulando a revista ECO 21 de dezembro de 2013. Uma das principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, a ECO 21 deste mês traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial e o índice da edição.

Editorial

Embora a questão ambiental e as mudanças climáticas não fossem os objetivos que definiram a longa e sofrida caminhada de Mandela em direção à liberdade, uma reflexão filosófica dele sobre a vida revela uma profunda sobreposição de pensamento em relação aos princípios e compromissos da luta pela justiça social e a relação do homem com a natureza. Madiba disse: “Ao subir uma montanha, quando a gente encontra um desconhecido não se pode deixar de notar a diferença na sua atitude. Unidos pelo mesmo propósito e experiência na ocasião dos encontros, o que um oferece ao outro é coragem e companhia. Não falta muito para chegar – ele nos dirá nos mais diversos sotaques. Essa também tem sido a nossa experiência enquanto escalamos os picos desafiadores na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática”. A sabedoria de Mandela é ancestral, remonta aos primórdios do ser humano na África Austral – diríamos poeticamente à sombra da Table Mountain – que o homem aprendeu a caminhar e a se socializar há 3 milhões de anos. Sobre a sua terra natal (mesmo que Mandela tivesse nascido no Cabo Oriental) ele disse: “Para o povo da África do Sul, os limites da Table Mountain representam muito mais do que os restos rochosos de milênios de sedimentos. Possui um significado inestimável em relação à sua importância ecológica, cultural, religiosa e econômica, não apenas para a região do Cabo Ocidental, mas para o resto do país”. É também dessa região uma das mais antigas flores do mundo, a King Protea, que segundo os xamãs zulus guarda em sua memória genética informações capazes de reconhecer os estados de alma dos seres humanos e por isso era utilizada com fins medicinais. Essa flor, a predileta de Madiba, quase foi extinta pelos colonizadores europeus que a utilizaram como lenha e essência para fazer chá e açúcar. A pujança e resistência da King Protea explica a alegria e fortaleza de Mandela. Tal como a flor, ele sobreviveu ao Tsunami do Apartheid entendendo a profunda relação existente entre o homem e a natureza. Esse lugar, Robben Island, é hoje considerado pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade e Área Floral Protegida. No Dia Mundial do Meio Ambiente de 1998, Mandela criou o Parque Nacional da Península do Cabo, onde se encontra a Table Mountain com o intuito de proteger “para sempre o coração do reino vegetal do Cabo, que é o menor dos seis reinos florais do mundo”. Paradoxalmente, foi em Robben Island que ele passou 27 anos preso e desde ali contemplava a Table Mountain buscando inspiração para sua grande obra. Por isso ele confidenciou:“Para nós em Robben Island, Table Mountain foi um farol de esperança. Ela representou a terra onde sabíamos que um dia voltaríamos”. Foi ali que, com perseverança e coragem moral, o seu coração ficou iluminado de amor pelos homens e pela liberdade.

Agradecendo, desejamos que o exemplo de Madiba nos inspire neste final de ano e que 2014 seja ecologicamente fraterno. Ngiyabonga kakhulu e Ubuntu! Boas Festas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário