sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Obesidade e bactérias

 

por Drauzio Varella*

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Foto: Divulgação/ Internet

Pesquisa revela relação entre bactérias encontradas no intestino e as oscilações da balança.

Na vida intrauterina, o intestino é ambiente livre de germes. Basta virmos ao mundo, no entanto, para que ele seja povoado por um número de bactérias maior que o de células existentes no corpo inteiro.

Os microrganismos que vivem no trato gastrointestinal estabelecem relações comunitárias que interferem nas múltiplas funções fisiológicas. Diversas publicações levantaram a hipótese de que esse microbioma intestinal estaria relacionado com a obesidade.

Vanessa Ridaura e colaboradores da Universidade de Washington acabam de demonstrar que o microbioma de pessoas obesas ou magras é capaz de induzir obesidade ou magreza em ratos, e que bactérias intestinais de doadores magros podem invadir, colonizar o intestino e emagrecer ratos obesos, alimentados com uma dieta favorável.

No estudo foram escolhidos quatro pares de irmãs gêmeas discordantes, nos quais uma era magra (Mg) e a outra obesa (Ob). Amostras de fezes de cada participante foram transplantadas para o intestino de ratos criados em ambiente livre de germes.

Alimentados com dietas contendo o mesmo número de calorias, desenvolveram obesidade apenas os animais que receberam transplantes fecais das mulheres obesas.

Quando os pesquisadores colocaram na mesma gaiola um rato (Ob), que recebeu transferência de bactérias cultivadas a partir das fezes de uma irmã obesa, em companhia de um rato (Mg), portador de bactérias obtidas da irmã magra, o animal (Ob) perdeu peso.
As bactérias dos ratos (Mg) colonizaram os intestinos dos ratos (Ob), mas a colonização reversa – dos (Mg) pelas bactérias dos (Ob) – não ocorreu. Os (Ob) emagreceram; os (Mg) permaneceram magros.

A interação com a dieta foi clara: bactérias intestinais dos ratos (Mg) só colonizaram adequadamente e emagreceram os ratos (Ob), quando estes foram alimentados com dietas ricas em fibras e pobres em gordura.

Uma das principais atividades das bactérias intestinais é quebrar e fermentar fibras alimentares, formando os chamados ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que fornecem 5% a 10% das calorias diárias dos seres humanos. Ratos (Mg) produzem maiores quantidades desses ácidos graxos do que os (Ob).

Embora os AGCC sejam fonte de energia, eles promovem emagrecimento, porque inibem o acúmulo de gordura no tecido adiposo, aumentam a energia que o organismo gasta em repouso e a produção de hormônios envolvidos na sensação de saciedade.

Traduzir esses achados para o contexto humano não é simples. Alguns Bacteroides intestinais presentes nos ratos (Ob) dos experimentos descritos são mais frequentes em pessoas obesas do que nas magras. Eles estão associados a dietas ricas em proteína animal e gorduras saturadas, e são encontrados em pequeno número em africanos que ingerem alimentos ricos em fibras.

O modelo experimental descrito pelo grupo da Universidade de Washington servirá de base para trabalhos com transplantes de bactérias fecais humanas no tratamento da obesidade.

* Drauzio Varella é médico oncologista, cientista e escritor brasileiro, formado pela Universidade de São Paulo.

** Publicado originalmente no site Carta Capital.

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