Por Tiago Pariz e Luciana Otoni | Reuters
BRASÍLIA, 18 Abr (Reuters) - O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu por unanimidade nesta quarta-feira reduzir a Selic em 0,75 ponto percentual, para 9 por cento ao ano. Trata-se do sexto corte seguido desde agosto passado, quando iniciou o processo de afrouxamento da política monetária, e ainda deixou a porta aberta para mais reduções, na opinião de parte dos agentes econômicos.
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"O Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O Comitê nota ainda que, até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária", informou o Copom em comunicado. "Diante disso, dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 9 por cento ao ano, sem viés."
Pesquisa da Reuters mostrou na semana passada que 45 dos 47 analistas consultados previam corte de 0,75 ponto na Selic agora, sendo que os dois restantes esperavam uma redução de 0,50 ponto. O levantamento mostrou ainda que a grande maioria dos especialistas previa que a taxa ficaria em 9 por cento até o fim do ano.
A Selic, agora, está no menor nível desde abril de 2010, quando passou de 8,75 por cento ao ano -menor patamar histórico- para 9,50 por cento. A ata dessa reunião será divulgada na próxima semana.
O corte foi o segundo seguido na mesma magnitude e está em linha com a estratégia do governo de estimular mais a economia e garantir crescimento na casa de 4 por cento neste ano. Barateando os custos dos empréstimos via Selic, o consumo é estimulado e, consequentemente, a atividade.
Dados recentes mostram que a atividade continua patinando, como o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Considerado uma espécie de sinalizador do comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o indicador caiu 0,23 por cento em fevereiro ante janeiro, informou o BC na segunda-feira passada.
Foi o segundo mês seguido de contração, indicando que a economia terá um primeiro trimestre ainda ruim. No acumulado de 12 meses, o IBC-Br mostrou expansão de apenas 2,05 por cento em fevereiro.
Por conta disso, o governo também anunciou uma série de medidas para estimular o crescimento, com foco especial na indústria nacional.
PARADA?
O comunicado do BC, na avaliação dos especialistas, pode indicar que o atual ciclo de corte da Selic chegou ao fim. Porém, há quem entenda que uma porta ficou aberta para mais reduções, como é o caso da equipe do banco Santander, que enxerga uma outra redução em maio, quando o Copom se reúne novamente.
"Talvez o mercado possa continuar precificando a possibilidade (de mais cortes), dependendo da evolução do cenário externo. Eu, particularmente, não espero. Continuo achando que a taxa de 9 por cento será mantida até o fim do ano", afirmou o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno.
No mercado futuro de juros, uma pequena parte das apostas ainda indicavam que o Copom poderia voltar a reduzir a Selic em maio, no próximo encontro do Copom, com corte de 0,25 ponto percentual.
Em março passado, o Copom surpreendeu parte do mercado ao acelerar o passo e reduzir a Selic em 0,75 ponto percentual, para 9,75 por cento ao ano, voltando-a ao patamar de um dígito. A decisão, naquele momento, foi dividida: cinco diretores optaram pelo corte de 0,75 ponto e dois, pelo de 0,50 ponto.
Apesar disso, ao publicar a última ata em meados do mês passado, os diretores do BC afirmaram que a Selic se estabilizaria "ligeiramente acima" do mínimo histórico o que, para boa parte do mercado, significou dizer que a Selic ficaria em 9 por cento ao ano.
A autoridade monetária tem repetidamente afirmado que a inflação vai convergir para o centro da meta oficial -de 4,5 por cento pelo IPCA- no fim do ano. No último relatório de inflação, por exemplo, o BC previu que o indicador ficará em 4,4 por cento neste ano, mas elevou a estimativa para 2013 a 5,2 por cento.
Essa divergência para os cenários inflacionários foram vistos por analistas do mercado financeiro como um sinal de que o BC poderá ser obrigado a elevar a taxa básica de juros no ano que vem para conter as pressões de preço.
Em março passado, o IPCA subiu menos do que o esperado, ao registrar alta de 0,21 por cento, a menor desde julho de 2011, acumulando em 12 meses expansão de 5,24 por cento. No ano passado, o indicador fechou com alta de 6,50 por cento, exatamente no teto da meta do governo, que tem dois pontos percentuais de margem para mais ou para menos.
(Reportagem adicional de Frederico Rosas e Aluísio Alves, em São Paulo)
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