quarta-feira, 28 de julho de 2010

A corrupção

Existe um discurso corrente de que viveríamos bem não fosse tanta corrupção. Em nome do combate à corrupção, alguns demagogos se deram muito bem, a exemplo de Jânio Quadros com sua vassoura e Fernando Collor se apresentando como o "Caçador de Marajás".
É verdade que a corrupção representa uma sangria de recursos que poderiam ser usados para o melhor atendimento das inúmeras necessidades sociais. Mas, não é verdade que viveríamos bem não fosse o cancro da corrupção.
Lancemos mão de um recurso didático. As drogas, tão nocivas à saúde e à sociedade, dividem-se em drogas lícitas e ilícitas. São drogas lícitas as bebidas alcoólicas e os cigarros de tabaco. São drogas ilícitas a maconha, a cocaína e o tão devastador crack. A primeira, a droga lícita, não sofre maiores censuras, enquanto as drogas ilícitas são alvos de cerrado combate e proibição.
Ora, quem produz as riquezas são as massas trabalhadoras e do montante que essas massas produzem uma boa quantidade é desviada para custear a corrupção e isso é totalmente ilícito.
Mas, do montante de riqueza produzida a maior parte vai para o bolso dos capitalistas que lucram, se apropriando do trabalho. E isso não é considerado roubo, é considerado lícito e amparado pelas leis vigentes, a começar pela tão badalada Constituição.
Enquanto a corrupção, que é própria do sistema capitalista, pois a ele é inerente, merece punição e acirrada desaprovação. A apropriação desvergonhada do suor e do sangue das massas trabalhadoras pela minoria burguesa, ao invés de ser denunciada e condenada, é reverenciada como testemunho de sucesso de meia dúzia de vivaldinos.  
O cancro da corrupção junto com a fome, o desemprego, os baixos salários, as favelas, a violência e outras tantas mazelas são produtos do capitalismo. Portanto, o centro de nossa luta deve ser o permanente combate à verdadeira causa de nossos infortúnios.
Devemos entender que não é possível a moralização do capitalismo caso tenhamos claro que ele não se limita a um país, ele é universal. Minimizemos assim, os discursos moralistas, pois insuficientes.

*Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.

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