terça-feira, 15 de abril de 2014

Quem é agressor na crise ucraniana

 

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Foto: RIA Novosti

Notícias não verdadeiras publicadas na mídia ocidental sobre a questão ucraniana, de tanto serem repetidas, tornam-se “verídicas”, e transformam-se em “fatos” sobre os quais se forma a opinião – de boa ou má-fé, e inteiramente afastada da realidade –, que a imprensa brasileira passa ao seu público.

Assim, os editoriais alarmistas nos grandes jornais do país alertam para o que chamam de ameaça russa, e exigem do Ocidente atitudes extremas.

Mas onde está a verdade?

Num bloco da editoria Opinião, publicada no jornal O Globo, se sugere que os Estados Unidos e a União Europeia devem preparar as mais duras sanções contra a Rússia, acusada de criar pretexto para a nova intervenção militar na Ucrânia.

Gosto não se discute. Mas as opiniões, com certeza, principalmente quando elas se baseiam nas informações pouco verdadeiras que precisam ser esclarecidas.

Para o leitor ter condições de tirar suas próprias conclusões, independentemente das recomendações da mídia ocidental – vamos aos fatos.

Tudo que esta acontecendo hoje na Ucrânia foi absolutamente previsível e anunciado. Só não viu quem não quis. Governo que não é governo, sem legitimidade e representatividade, estava muito claro que não ia dar certo. Não foi por falta de aviso, mas prevaleceu a exagerada ambição de sempre. E o pouco caso com a opinião dos outros, como não lembrar o Iraque, o Irã, a Síria e tantos outros.

No dia 21 de fevereiro, atendendo as recomendações das lideranças russas, o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, fez um acordo com as forças da oposição, assinado também pelos ministros das Relações Exteriores de Alemanha, França e Polônia. Neste acordo foram estabelecidas todas as condições que atendiam as exigências da oposição, inclusive definindo os próximos passos para as eleições presidenciais. Com base no acordo, foram tiradas das ruas de Kiev as forças policiais.

No dia 22 de fevereiro, rompendo o acordo, o grupo de pessoas apoiadas pelas forças paramilitares da extrema direita, realizou o golpe de Estado.

O parlamento da Ucrânia, cujos membros, principalmente dos partidos que apoiaram o presidente, foram forçados, inclusive com ameaças de espancamento (alguns realmente foram espancados), a mudar a Constituição do país, nomeando o novo governo. Mesmo assim, as principais exigências da Constituição não foram cumpridas, inclusive em relação ao quórum.

Apesar disso, o Ocidente, tão zeloso quanto às normas do Direito Internacional, deixou de lado as suas exigências, reconhecendo o novo governo composto por ex-funcionários dos antigos governos da Ucrânia e representantes da ultradireita.

Um dos primeiros atos do novo governo foi a proposta de eliminar a língua russa como segunda língua oficial do país. Levando em consideração que os russos representam 30% da população da Ucrânia e em algumas regiões, como a Crimeia, até 60%, este fato, juntamente com as abertas ameaças aos russos radicados na Ucrânia, foi um claro sinal de início de uma nova era.

Com a passagem do tempo, as preocupações étnicas tiveram novos e novos fundamentos. A ex-primeira-ministra da Ucrânia Yulia Tymoshenko, atualmente forte candidata à presidência do país, revelou, em conversa telefônica, que a vontade dela era metralhar todos os russos radicados na Ucrânia. E ela foi obrigada a reconhecer a veracidade dessa conversa.

Enquanto isso, no parlamento ucraniano, os deputados discutiram o fuzilamento como pena máxima para manifestantes. A ultradireita ucraniana, cujo dirigente está entre os 46 candidatos à presidência do país, proclama, desde o dia do golpe, a necessidade de matar os russos e enforcar os judeus.

Para qualquer pessoa de bom senso e ainda na terra da Segunda Guerra Mundial, onde em cada esquina é viva a lembrança daqueles horrores, é impossível não concordar com a vontade da população de defender os seus interesses e a própria vida.

Quem é o culpado nessa tragédia?

É curioso que os Estados Unidos, que demonstraram tão alto grau de liberalismo aceitando o golpe de Estado, declararam imediatamente após o início das manifestações da população russa que não admitem o pedido de referendo e seus resultados, porque não estariam de acordo com a Constituição da Ucrânia.

Como na conhecida história em que é o ladrão quem grita “pega ladrão”, o governo russo foi acusado de agressão. Vale a pena lembrar que durante os 14 anos do governo de Vladimir Putin a Rússia cumpriu rigorosamente todos os acordos bilaterais e multilaterais.

Lamentavelmente, não se percebe a mesma coisa da parte dos Estados Unidos e seus parceiros europeus.

Desde 1998, quando o presidente Reagan prometeu ao presidente da União Soviética Mikhail Gorbachev que as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) não se aproximariam das fronteiras russas, a situação mudou da água para o vinho. Hoje as forças militares da OTAN estão chegando cada vez mais perto das fronteiras russas. A Ucrânia foi a última barreira para isso. Em outras palavras, propositalmente foi passada a linha vermelha.

E quem nesta história toda é o agressor? Obviamente, a Rússia.

Como não lembrar o famoso pronunciamento de Winston Churchill em 1946, anunciando o início da Guerra Fria com a União Soviética.

Agora ficou muito mais fácil. O invisível "inimigo comum" se tornou visível de novo. Quem é ele? Obviamente, a Rússia.

Vários graduados funcionários do governo dos Estados Unidos, inclusive o secretário de Estado John Kerry, diversas vezes visitaram a Ucrânia, unindo-se aos manifestantes, claramente demonstrando o seu apoio ao movimento antirrusso.

Alguns, mais atrevidos, como o senador John McCain, deixaram se fotografar abraçados aos militantes da direita, cujos líderes, a pedido da Rússia, estão sendo procurados internacionalmente por participar da guerrilha chechena.

Não se diz nada sobre as ações claramente antirrussas do novo governo "pró-democrático" ucraniano, onde se proíbe aos jornalistas russos fazer o seu trabalho profissional, realizam-se espancamentos, o fechamento dos canais da TV russa. Mesmo com as forças da OTAN nas suas fronteiras e com seu exército mantido em seu próprio território, a Rússia é a agressora que deve ser punida.

Frente a essa história tão banal e tão pouco verdadeira, por que não gritar "pega ladrão"?

As lições da História o mundo esquece perigosamente rápido. A mídia pouco ajuda para evitar isso.


Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/2014_04_15/Quem-agressor-na-crise-ucraniana-3995/

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