4 de março de 2020, 03:51 h Atualizado em 4 de março de 2020, 04:17
Lula recebe título de cidadão honorário de Paris (Foto: Ricardo Stuckert)
Da página lula.com.br – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta terça-feira (3) com o economista Thomas Piketty, na Escola de Economia de Paris. O autor de “O Capital no século XXI” tem coordenado um laboratório de estudos sobre a desigualdade no mundo e aproveitou a passagem do ex-presidente por Paris para convidar Lula a apresentar a experiência brasileira no combate à miséria.
A questão da desigualdade tem sido central na agenda de Lula nos últimos meses. “Quero agradecer a oportunidade de fazer o debate de uma coisa que me é muito cara. Nós temos que expor a desigualdade como um problema político, uma questão de dignidade humana. Não haverá diminuição da desigualdade se a gente não mexer no coração da riqueza”, avaliou. O encontro reuniu pesquisadores da desigualdade em todo o mundo, em especial na América Latina e Brasil.
“É muito difícil compreender o Brasil se não levar em conta os 350 anos de escravidão. Somos uma sociedade escravagista, embora a escravidão formalmente tenha sido extinta. Ela existe na economia brasileira. Existe no patrimonialismo. A elite brasileira nunca efetivamente se deu conta da necessidade de elevar a qualidade de vida dos mais pobres”, expôs o ex-presidente.
Lula refletiu ainda sobre os desafios práticos para a implementação de políticas para redução da desigualdade durante os anos em que esteve à frente da Presidência. “Para fazer uma reforma você precisa saber pra que e para quem. E ter consciência da correlação de forças na sociedade e nas instituições”, pontuou. “Quando ganhei as eleições, em 2002, o Congresso Nacional tinha 513 deputados. Eu tinha apenas 91. De 88 senadores, tínhamos apenas 14. Quando Dilma ganha, os deputados caíram de 91 pra 72 e os senadores para seis. E essa maioria trabalha pela manutenção do status quo, ou por sua agenda própria”.
Para Lula, essa lógica provocou uma perda de força no Estado. “Criou-se um mecanismo onde a sociedade privada vai dirigindo o Estado”.
O ex-presidente também fez uma exposição dos programas sociais como o Bolsa Família, Luz Para Todos e ProUni, que marcaram o legado dos governos petistas, e de como essas medidas incentivaram a economia, mesmo gerando incômodo em setores da elite. “Fazer transferência de renda foi uma decisão contra tudo e contra todos. Contra os chamados especialistas. Quando tomamos a decisão de criar o programa fome zero, muita gente no Brasil escrevia que era melhor investir em estradas, em infraestrutra. Meu argumento era: o povo não come cimento. O povo come feijão e arroz e é disso que ele está precisando agora”.
“Não existe explicação humanitária um cidadão ter 100 bilhões de dólares na sua conta e 100 milhões de pessoas não terem o que comer. Não sei quanto tempo vou viver. Mas se eu puder quero ajudar a criar indignação com a concentração de renda no mundo”, propôs Lula.
Ao final, Piketty anunciou que o encontro deve ser o primeiro de uma importante colaboração sobre o tema da desigualdade. “Foi muito interessante. Temos que garantir que continuemos em contato nesse intercâmbio e vamos tentar ir ao Brasil com nossa equipe para aprofundar esse debate”, disse o economista.
Fonte: https://www.brasil247.com/poder/lula-nao-sei-quanto-tempo-vou-viver-mas-quero-ajudar-a-criar-indignacao-contra-a-desigualdade
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