terça-feira, 25 de agosto de 2015

"EUA falharam e ajudaram o terror", diz especialista autor de livro sobre o Estado Islâmico

 

Michael Weiss, jornalista e analista político, aponta os erros do governo americano no Oriente Médio. Para ele, as prisões americanas no Iraque ajudaram a construir o atual EI

Por: Julia Braun e Diego Braga Norte22/08/2015 Xiita comemora tomada de Jurf al-Sakhar, cidade no sul de Bagdá que estava nas mãos do terrorista Estado Islâmico. A frase na parede diz: ‘Morte ao Daash’, acrônimo de um dos nomes do grupo terrorista

  • 178Xiita comemora tomada de Jurf al-Sakhar, cidade no sul de Bagdá que estava nas mãos do terrorista Estado Islâmico. A frase na parede diz: ‘Morte ao Daash’, acrônimo de um dos nomes do grupo terrorista (Foto: Alaa Al-Marjani/Reuters)Homem desabrigado fugindo da violência em Ramadi carrega criança nas costas, próximo a Bagdá, Iraque

  • 278Homem desabrigado fugindo da violência em Ramadi carrega criança nas costas, próximo a Bagdá, Iraque (Foto: Stringer/Reuters)

  • Criança iraquiana desabrigada foge da província de Anbar devido aos conflitos de forças favoráveis ao governo e grupos jihadistas

    378Criança iraquiana desabrigada foge da província de Anbar devido aos conflitos de forças favoráveis ao governo e grupos jihadistas (Foto: Haidar Hamdani/AFP)

  • 478Míssel Truxtun, criado durante o governo de Geroge Bush filho, é lançado de veículo marinho americano do Golfo Pérsico em direção ao Iraque (Foto: US Navy/Scott Barnes/AFP)

  • 578Avião de combate francês deixa sua base militar nos Emirados Árabes e segue em direção ao norte do Iraque para combater o Estado Islâmico (Foto: French Army Communications body ECPAD/AFP)

  • 678Em meio à luta entre curdos do PKK e os terroristas do Estado Islâmico, tanques do Exército turco ficam postados na fronteira com a Síria (Foto: Lefteris Pitarakis/AP)

  • 778Na imagem, um posto militar do exército sírio localizado na cidade de Maarat al-Numan é atingido por combatentes rebeldes do Estado Islâmico (EI), nesta terça-feira (14) (Foto: Ghaith Omran/AFP)

  • 878Fumaça é vista durante ataques aéreos na cidade síria de Ain al-Arab, visto a partir da fronteira com a Turquia. O Pentágono anunciou hoje (08) que o poder aéreo dos Estados Unidos por si só não pode impedir que os jihadistas do Estado Islâmico (EI) avancem sobre a cidade fronteiriça de Kobane (Foto: Aris Messini/AFP)

  • 978Terroristas do Estado Islâmico (EI) são vistos em morro próximo à cidade de Kobane, região fronteiriça entre a Síria e a Turquia (Foto: Aris Messinis/AFP)

  • 1078Fumaça é vista depois de bombardeio na cidade síria de Kobani. Coalizão internacional tenta impedir avanço terrorista contra a cidade, que fica perto da fronteira com a Turquia (Foto: Burhan Ozbilici/AP)

  • 1178Militares britânicos trabalham em um caça na base aérea de Akrotiri, perto de Limassol, no Chipre. A Grã-Bretanha tem usado a base para operações contra alvos do grupo terrorista Estado Islâmico no Iraque (Foto: Petros Karadjias/AP)

  • 1278Caças F-15E da Força Aérea dos Estados Unidos sobrevoam o norte do Iraque após a realização de ataques aéreos na Síria em combate aos militantes do Estado Islâmico. Foto tirada no último dia 23 e divulgada hoje - 26/09/2014 (Foto: Senior Airman Matthew Bruch/Força Aérea dos Estados Unidos/Reuters)

  • 1378Caça F-18 da marinha americana é reabastecido no ar, na região norte do Iraque. A aeronave integra parte das ações de ataque aos alvos do Estado Islâmico (EI) na Síria (Foto: VEJA.com/EFE)

  • 1478Imagem divulgada pelo Pentágono mostra refinarias de petróleo controladas pelo Estado Islâmico no leste da Síria, antes e depois de ser destruída em um ataque aéreo dos EUA (Foto: Divulgacão/VEJA)

  • 1578Imagem divulgada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, mostra míssel sendo lançado do porta-aviões 'USS George H.W. Bush' em direção ao Golfo Árabe - 23/09/2014 (Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos/Reuters)

  • 1678Imagem divulgada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, mostra míssel sendo lançado do porta-aviões 'USS George H.W. Bush' em direção ao Golfo Árabe - 23/09/2014 (Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos/Reuters)

  • 1778Imagens divulgadas pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos mostram danos à Refinaria de Petróleo Gbiebe na Síria - 25/09/2014 (Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos/Reuters)

  • 1878Imagens divulgadas pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos mostram danos à Refinaria de Petróleo Jerive na Síria - 25/09/2014 (Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos/Reuters)

  • 1978Caças norte-americanos posicionados no porta-aviões 'George H.W. Bush' se preparam para realizar missões no Golfo Pérsico em combate ao Estado Islâmico - 23/09/2014 (Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos/Reuters)

  • 2078Caças norte-americanos posicionados no porta-aviões 'George H.W. Bush' se preparam para realizar missões no Golfo Pérsico em combate ao Estado Islâmico - 23/09/2014 (Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos/Reuters)

  • 2178Imagem divulgada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos mostra centro de testes em Abu Kamal, na Síria, antes e depois de ataque - 23/09/2014 (Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos/Reuters)

  • 2278Míssel contra o Estado Islâmico é lançado do porta-aviões 'George H.W. Bush' - 23/09/2014 (Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos/Reuters)

  • 2378Voluntário Xiita da milícia Hezbollah aponta seu rifle durante combate contra militantes do Estado Islâmico - 01/09/2014 (Foto: VEJA.com/EFE)

  • 2478Cidadãos iraquianos protestam nas ruas de Kerbala, sul do Iraque, com fotos de parentes supostamente executados pelo Estado Islâmico (Foto: Alaa Al-Shemaree/EFE)

  • 2578Secretário de Estado dos Estados Unidos John Kerry, olha papéis durante o voo da Jordânia para o Iraque, no início de uma turnê pelo Oriente Médio em busca de apoio militar, político e financeiro para derrotar os militantes islâmicos que controlam partes do Iraque e da Síria - 10/09/2014 (Foto: Brendan Smialowski/Reuters)

  • 2678Combatente curdo Peshmerga lança morteiro em direção a cidade de Zummar, controlada pelo Estado Islâmico, no Iraque (Foto: Ahmed Jadallah/Reuters)

  • 2778Um caça iraquiano é visto ao sobrevoar a cidade de Amerli, dominada por militantes radicais do Estado Islâmico desde junho. Segundo informações oficiais divulgadas nesta quarta-feira (03), as forças nacionais do Iraque já recuperaram parte do território (Foto: Ahamad Al-Rubaye/AFP)

  • 2878Militar Xiita fica de guarda após destruir o cerco jihadista do Estado Islâmico em Amerli, Iraque - 01/09/2014 (Foto: Stringer/Reuters)

  • 2978Exército iraquiano entra na cidade de Amerli apos destruir cerco jihadista do Estado Islâmico - 01/09/2014 (Foto: Youssef Boudlal/Reuters)

  • 3078Voluntários Xiitas da milícia Hezbollah em combate contra o grupo extremista do Estado Islâmico na cidade de Amerli, Iraque - 01/09/2014 (Foto: VEJA.com/EFE)

  • 3178Milícia iraquiana posam com bandeira do Estado Islâmico para celebrar o rompimento do cerco da cidade de Amerli, Iraque - 01/09/2014 (Foto: Youssef Boudlal/Reuters)

  • 3278Meninas em gestos de comemoração após o Exército Iraquiano romper o cerco de Amerli, Iraque. A cidade estava sitiada há mais de dois meses - 01/09/2014 (Foto: Stringer/Reuters)

  • 3378Garotos carregam garrafas de água que receberam de uma doação curda após o rompimento do cerco em Amerli, Iraque - 01/09/2014 (Foto: Youssef Boudlal/Reuters)

  • 3478Garoto anda de bicicleta carregando uma bandeira Hezbollah em Amerli, Iraque - 01/09/2014 (Foto: Youssef Boudlal/Reuters)

  • 3578Combatente xiita monta guarda próximo à cidade de Bagdá contra os jihadistas do Estado Islâmico, no Iraque (Foto: Ali Al-Saadi/AFP)

  • 3678Soldado das forças curdas Peshmerga se prepara para lançar um foguete contra jihadistas, no Iraque (Foto: Ahmad Al-Rubaye/AFP)

  • 3778Soldado das forças curdas Peshmerga durante conflito com jihadistas, no Iraque (Foto: Ahmad Al-Rubaye/AFP)

  • 3878Comandante das forças curdas Peshmerga, monta guarda próximo à cidade de Gwer no Iraque após a retirada de jihadistas do Estado Islâmico (Foto: Youssef Boudlal/Reuters)

  • 3978Combatentes curdos montam guarda próximo à cidade de Gwer no Iraque, após retirada de jihadista do Estado Islâmico (Foto: Youssef Boudlal/Reuters)

  • 4078Voluntários yazidis durante instruções de como manusear armas para combater terroristas no Iraque (Foto: Youssef Boudlal/Reuters)

  • 4178Iraquianos desabrigados se aglomeram para receber comida de curdos, na Síria (Foto: Khalid Mohammed/AP)

  • 4278Iraquianos desabrigados recebem doações de roupas, na Síria (Foto: Khalid Mohammed/VEJA)

  • 4378Iraquianos desabrigados vivem em barracas improvisadas na cidade de Erbil, no Iraque (Foto: Youssef Boudlal/Reuters)

  • 4478Cristãos iraquianos que fugiram da violência da cidade de Qaraqosh descansam próximo à uma Igreja, no iraque (Foto: Safin Hamed/AFP)

  • 4578Iraquianos da minoria religiosa Yazidi fogem à pé em direção a Síria após ataques de militantes islâmicos que mataram pelo menos 500 pessoas que seguem a religião curda e católicos (Foto: VEJA.com/Reuters)

  • 4678Iraquianos que fugiram da violência na província de Nínive, chegar à província de Sulaimaniya (Foto: VEJA.com/Reuters)

  • 4778Cristãos iraquianos se abrigam na igreja de São José, em Erbil, no norte do Iraque depois de fugirem de suas aldeias invadidas por extremistas islâmicos (Foto: Khalid Mohammed/AP)

  • 4878Cristãos iraquianos que fugiram da violência na aldeia de Qaraqush, a leste da província de Nínive, descansam na igreja São José, na cidade curda de Erbil, na região autônoma do Curdistão iraquiano (Foto: Safin Hamed/AFP)

  • 4978Cristãos iraquianos que fugiram da violência na aldeia de Qaraqush, a leste da província de Nínive, descansam na igreja São José, na cidade curda de Erbil, na região autônoma do Curdistão iraquiano (Foto: Safin Hamed/AFP)

  • 5078Soldado curdo de prontidão para combater as forças terroristas do EIIL (Foto: Stringer/Reuters)

  • 5178Tropas curdas realizam operação contra os jihadistas militantes do Estado Islâmico no Makhmur, nos arredores da província de Nínive, no Iraque - 08/08/2014 (Foto: VEJA.com/Reuters)

  • 5278Civis iraquianos se reúnem pela manhã, após uma série de carros-bomba atravessou ruas comerciais em vários bairros de Bagdá - 07/08/2014 (Foto: Karim Kadim/AP)

  • 5378Local de uma explosão em um bairro predominantemente xiita na cidade de Sadr, ao norte de Bagdá - 01/08/2014 (Foto: VEJA.com/EFE)

  • 5478Local de uma explosão em um bairro predominantemente xiita na cidade de Sadr, ao norte de Bagdá - 01/08/2014 (Foto: VEJA.com/EFE)

  • 5578Um carro-bomba explodiu na região central de Bagdá, na manhã desta sexta-feira (01/08/2014). O Iraque vem enfrentando uma forte onda de violência desde o mês passado, quando insurgentes sunitas tomaram posse de grandes faixas de terra ao norte do país (Foto: Wissm al-Okili/Reuters/VEJA)

  • 5678Templo de Jonas destruído em Mosul, Iraque (Foto: VEJA.com/AP)

  • 5778Soldado das forças curdas Peshmerga faz patrulha na província de Nineveh, no Iraque (Foto: VEJA.com/Reuters)

  • 5878Soldados das forças curdas Peshmerga montam guarda contra militantes sunitas liderados pelo Estado Islâmico, no Iraque (Foto: VEJA.com/Reuters)

  • 5978Tropas curdas se preparam para um ataque contra o Estado Islâmico do Iraque na província de Nineveh (Foto: VEJA.com/Reuters)

  • 6078Voluntários xiitas que se alistaram para lutar contra os jihadistas, durante treinamento próximo à cidade de Basra, no Iraque (Foto: Haidar Mohammed Ali/AFP)

  • 6178Forças de segurança iraquianas destroem a bandeira do grupo militante sunita pertencente ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), durante uma patrulha na cidade de Dalli Abbas; O líder da Al Qaeda pediu aos muçulmanos de todo o mundo para pegarem em armas e migram para o Estado declarado em solo sírio e iraquiano (Foto: Reuters/VEJA)

  • 6278Aviões russos chegam a base aérea militar do Iraque, no aeroporto de Bagdá; Segundo informações do Ministério da Defesa, os caças que chegaram ao país serão usados para apoiar as tropas iraquianas no combate aos militantes islâmicos sunitas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), que tomam poder nas províncias ao norte (Foto: Reuters/VEJA)

  • 6378Membros do bloco político sunita 'Mutahidoon' durante uma coletiva de imprensa realizada após a primeira sessão do Parlamento iraquiano em Bagdá; Dirigentes não conseguiram nomear um primeiro-ministro para substituir Nuri al Maliki, escurecendo qualquer perspectiva de um governo de forte unidade para salvar o país do colapso (Foto: Thaier Al-Sudani/Reuters/VEJA)

  • 6478Caça russo chega à base aérea militar do Iraque, no aeroporto de Bagdá; As aeronaves serão utizadas para apoiar as tropas iraquianas a combater militantes islâmicos sunitas que tomaram o poder nas províncias ao norte do país (Foto: Reuters/VEJA)

  • 6578Membro das forças curdas em posição de combate contra militantes sunitas liderados pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL), na aldeia Basheer, sul da cidade de Kirkuk (Foto: RickI Findler/AFP/VEJA)

  • 6678Soldado das forças curdas Peshmerga fala com um líder de uma comunidade xiita local, que elogia ações das Forças Especiais curdos para protegê-los de militantes sunitas liderados pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL), na cidade de Kirkuk (Foto: Rick Findler/AFP/VEJA)

  • 6778Na aldeia iraquiana de Basheer, membro das forças curdas passa por um tanque durante uma pausa nos combates contra militantes sunitas liderados pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL) (Foto: Rick Findler/AFP/VEJA)

  • 6878Membros das forças curdas Peshmerga mantém posição na aldeia iraquiana de Basheer; Militantes sunitas liderados pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante assumiram o controle de uma passagem de fronteira Iraque-Síria depois que os rebeldes sírios se retiraram durante a última madrugada (Foto: Karim Sahib/AFP/VEJA)

  • 6978Vista aérea do complexo de Baiji, no Iraque (Foto: Getty Images/VEJA)

  • 7078Imagem de vídeo mostra fumaça na refinaria de petróleo de Baiji (Foto: Reuters/VEJA)

  • 7178Voluntários iraquianos que se juntaram às forças do Exército comemoram nas ruas de Baquba (Foto: Ali Mohammed/EFE)

  • 7278Voluntários são revistados antes de se juntarem ao Exército iraquiano na luta contra os terroristas do EIIL (Foto: Ahmed Saad/Reuters)

  • 7378Voluntários se unem ao Exército iraquiano para combater o avanço de forças terroristas do EIIL (Foto: Ahmed Saad/Reuters/VEJA)

  • 7478Crianças observam carro destruído após ofensiva dos terroristas do EIIL em Mosul, no Iraque (Foto: Reuters)

  • 7578Corpo de um soldado iraquiano é fotografado em uma das ruas da cidade de Mosul, atacada pelos terroristas do EIIL (Foto: Reuters/VEJA)

  • 7678Veículo das autoridades iraquianas é queimado um dia depois de terroristas do EIIL atacarem a cidade de Baiji (Foto: Reuters/VEJA)

  • 7778Forças de segurança curdas vigiam os arredores da cidade de Kirkuk, no Iraque (Foto: Ako Rasheed/Reuters/VEJA)

  • 7878Crianças refugiadas da violência em Mosul, carregam água em um dos acampamentos nos arredores de Erbil, na região do Curdistão do Iraque (Foto: Reuters/VEJA)

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Os Estados Unidos falharam em sua campanha antiterrorista no Iraque e abriram brechas para o crescimento de organizações extremistas como o Estado Islâmico (EI), diz Michael Weiss, jornalista americano, analista e colunista da revista de relações internacionais Foreign Policy e autor de um dos mais recentes e completos livros sobre o grupo jihadista - Estado Islâmico: Desvendando o Exército do Terror.

De acordo com Weiss, o sistema prisional americano no Iraque foi um dos grandes responsáveis pela radicalização dos terroristas que hoje lideram o Estado Islâmico. O jihadismo defendido pelo EI fermentou em uma prisão americana no Iraque chamada Camp Bucca, próxima de Bagdá. Enquanto estavam presos, seguros e bem alimentados, os extremistas arregimentaram presos comuns. "Se observarmos a liderança do EI hoje, incluindo Abu Bakr al-Baghdadi, todos ficaram presos em Camp Bucca. Isso não é coincidência. Essa foi a falha colossal de planejamento de guerra dos Estados Unidos: sua política de detenção", disse o autor em entrevista ao site de VEJA.

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O especialista também discorreu sobre a atual força e futuro do EI, os métodos de cooptação de novos recrutas do grupo e a influência do ditador sírio Bashar Assad no complexo jogo político na região. Weiss, ao lado do analista sírio Hassan Hassan, conseguiu investigar a história, as convicções, objetivos e métodos do grupo terrorista que vem impressionando o mundo com sua crueldade. Os autores fizeram dezenas de entrevistas com oficiais militares, agentes de serviços de inteligência, diplomatas e até mesmo membros do EI para construir um perfil do grupo extremista.

Estado Islâmico: Desvendando o Exército do Terror parte da trajetória de Abu Musab al-Zarqawi, fundador do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (nome original do grupo), explica sua aproximação com a Al Qaeda e detalha como a organização terrorista se reergueu após a intervenção do Ocidente no Iraque. Weiss e Hassan examinam também as estratégias de propaganda usadas pelos terroristas e elaboram perfis comportamentais dos integrantes do grupo. A seguir, leia os principais trechos da entrevista.

"Estado Islâmico: Desvendando o Exército do Terror", de Michael Weiss e Hassan Hassan"Estado Islâmico: Desvendando o Exército do Terror", de Michael Weiss e Hassan Hassan(Divulgação/VEJA)

Em seu livro, o senhor menciona erros dos Estados Unidos na campanha no Iraque que ajudaram a consolidação de grupos extremistas. Em sua opinião, qual foi o maior erro dos EUA? Quando os americanos passaram o controle das prisões no Iraque para o governo iraquiano, muitas pessoas haviam sido presas por outros crimes, pessoas que não estavam tentando ir atrás dos americanos e não eram uma ameaça ao Estado do Iraque. E é aqui que está o colossal fracasso no planejamento dos EUA: as instalações de detenção, principalmente a de Camp Bucca, que é a maior. Quando capturávamos os jihadistas, nós os tirávamos de zonas de combate ativo, dávamos proteção a eles, três refeições por dia e assistência médica. Nós essencialmente demos a eles uma área para recrutar outros membros, descansar um pouco da guerra e coordenar futuros ataques. Muitas pessoas aprenderam como construir bombas em Camp Bucca. Presos por crimes bobos se tornaram radicais na prisão pelo contato com detentos leais à Al Qaeda. Se observarmos a liderança do EI hoje, incluindo Abu Bakr al-Baghdadi [chefe do EI que os EUA acreditam estar gravemente ferido], todos ficaram presos em Camp Bucca. Isso não é coincidência.

Como acontece o processo de coerção e radicalização dos recrutas do Estado Islâmico? Muitas das pessoas que vão lutar com o EI não começam como islamistas ou jihadistas. Podem não ser sequer muçulmanos fiéis. Algumas das pessoas que entrevistamos disseram que foram atraídos pela guerra contra a presença de tropas estrangeiras e contra regimes corruptos, particularmente no Iraque e na Síria. Quando entraram, primeiro se juntaram a outros grupos rebeldes, mas se desencantaram com eles, pois achavam que também eram corruptos ou hipócritas. Os jihadistas do EI eram diferentes, diziam que não apenas criavam combatentes, mas mostravam a única forma real de ser muçulmano. É assim que eles agem, convencendo as pessoas de que a sua filosofia é o verdadeiro caminho para a iluminação espiritual e para qualquer forma de vida feliz. Os soldados são quebrados psicologicamente e são reconstruídos novamente à imagem do EI.

Esse é também o processo com os jihadistas ocidentais que vão para o Oriente Médio se juntar ao EI? Não é coincidência que muitos dos recrutas sejam adolescentes, tenham menos de 20 anos. Muitos deles vêm de um ambiente muito bom. São filhos de médicos ou advogados, de classe média, vivendo na Bélgica, França, Grã-Bretanha ou na Escandinávia. Mas, como tantos jovens em países ocidentais, muitos deles não têm um propósito, são adolescentes rebeldes, são um clichê. Os recrutadores do EI sabem encontrá-los e se aproveitar disso.

O governo dos EUA demorou em perceber a ameaça do Estado Islâmico? O presidente Obama subestimou o Estado Islâmico. Ele os chamou de "time júnior de terrorismo". Isso aconteceu apenas seis meses antes de eles conquistarem um território do tamanho da Grã-Bretanha.

Como o EI se tornou tão poderoso? Parte da explicação está nos erros cometidos pelos iraquianos e pelos americanos. Além disso, é preciso atribuir parte da responsabilidade ao regime do ditador sírio Bashar Assad, que facilitou as operações da Al Qaeda no Iraque até o início da guerra civil em seu próprio quintal, e mesmo depois.

Seu livro é claro sobre a importância do Irã no xadrez do Oriente Médio. Em que medida o recente acordo nuclear do Ocidente com os iranianos interfere nesse jogo? O Irã está mais poderoso agora. Ouvimos de muitas pessoas que está tudo bem porque o Irã está lutando contra os sunitas do EI. Acho isso uma tolice. Abu Musab al-Zarqawi dizia até pouco antes de o matarmos que a maior ameaça para a sua franquia não eram os americanos, curdos ou outras minorias como os cristãos, mas a maioria de xiitas no Iraque e, por trás deles, a Guarda Revolucionária do Irã. Zarqawi acreditava que os americanos afrouxariam suas forças no Iraque e acidentalmente entregariam o país ao Irã, a maior potência xiita da região. A propaganda do EI é muito efetiva e prega que os americanos infiéis, ligados aos judeus e aos xiitas querem eliminar os sunitas. Para o Estado Islâmico, esse acordo nuclear só certifica essa teoria da conspiração.

Seu livro dá a impressão de que grupos terroristas existirão para sempre no Oriente Médio. É uma visão muito pessimista? Não há dúvida de que em um futuro próximo não veremos a ameaça imposta pelo EI e outras organizações jihadistas encolher. Uma das principais razões é o fato de que a Líbia se tornou um Estado falido e um abrigo para todos os tipos de organização jihadista internacional. Elas brigam entre si, é verdade, mas têm um santurário onde se abrigar.

Como essa guerra sectária entre vertentes de jihadistas afeta o Ocidente? Atualmente EI e Al Qaeda competem como as duas mais impressionantes franquias jihadistas. Uma das formas como vão competir é tentando explodir coisas no Ocidente. Então, agora, não temos apenas a guerra ao terror, mas também uma guerra dentro do terror, e essa guerra vai ser jogada com vidas ocidentais. Isso já tem ocorrido, na França, na Austrália, na Bélgica. E tende a piorar.

Recentemente, o 'The New York Times' publicou uma reportagem afirmando que o EI está se transformando em um Estado funcional que usa o terror como ferramenta. Esta é uma perspectiva aterrorizante... O Exército americano capturou recentemente alguns documentos reveladores na Síria. A conclusão de muitos que os analisaram é que o EI já se comporta e funciona como um Estado. Não uma nação propriamente dita, mas um Estado em construção, com funções definidas. Os jihadistas do EI têm pretensões de ser um Estado; eles não se chamam Estado Islâmico por nada. Em áreas ocupadas, eles se comportam como um Estado: controlam a Justiça, serviços sociais, escolas, policiamento, comércio.

Os EUA terão eleições presidenciais em 2016. Como o senhor acha que serão as políticas de combate ao EI do próximo governo? Quem quer que se torne presidente vai ser mais intervencionista do que Obama tem sido. Nós sabemos o lema de Obama: "Os EUA só tornam as coisas piores quando se envolvem no mundo". Eu acho que vai haver uma mudança nessa área da política americana. Tem de haver.

http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/eua-falharam-e-ajudaram-o-terror-diz-especialista-autor-de-livro-sobre-o-estado-islamico

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