terça-feira, 11 de março de 2014

Senadora acusa CIA de busca ilegal em computadores de congressistas

 

Por Por Daniel De Luce, Michael Mathes | AFP
      A senadora Dianne Feinstein é vista em 15 de novembro de 2012
      Um raro bate-boca em público explodiu nesta terça-feira entre a Agência Central de Inteligência (CIA) e o Congresso americano, que deveria, na verdade, monitorar seu trabalho, com o chefe da agência negando categoricamente as acusações de espionagem sobre o Senado.

    Hoje, a CIA voltou a ser centro de um escândalo político nos Estados Unidos, acusada de violar a Constituição ao revistar os computadores de vários senadores que investigavam um extinto programa secreto de interrogatórios.

    O diretor da CIA, John Brennan, rejeitou categoricamente as acusações da presidente da Comissão de Inteligência do Senado, a senadora Dianne Feinstein. Segundo ela, a agência revistou os computadores dos investigadores do Senado para eliminar documentos ligados aos violentos interrogatórios realizados durante a presidência de George W. Bush.

    "Nada pode estar mais longe da verdade", frisou Brennan, em um evento no Council on Foreign Relations, um prestigioso think tank americano. "Não faríamos isso", garantiu, referindo-se ao objeto da denúncia.

    Brennan também conversou com a rede NBC News: "a questão está sendo administrada de uma maneira adequada, sendo vista pelas autoridades certas, e os fatos virão à tona".

    Os comentários de Brennan foram feitos pouco depois de Feinstein iniciar um duro ataque público à CIA e denunciar no Senado as supostas atividades da agência.

    "Tenho sérias preocupações que a busca da CIA possa ter violado o princípio de separação de poderes inscrito na Constituição americana, incluindo a liberdade de expressão e de debate", declarou Feinstein, em plenária no Senado.

    "Pode ter violado o marco constitucional vital para uma supervisão eficaz por parte do Congresso das atividades de Inteligência, ou qualquer outra função governamental", acrescentou.

    "Solicitei desculpas e um reconhecimento de que essa busca da CIA nos computadores (...) era inadequada", disse Dianne, acrescentando que "não recebi nenhum dos dois".

    O discurso de Feinstein representou uma pausa em suas relações normalmente cordiais com a comunidade de Inteligência, a qual defendeu em diferentes ocasiões.

    As declarações da senadora foram motivadas pelas denúncias de autoridades não identificadas à imprensa. Segundo essas fontes não reveladas, funcionários do Congresso teriam levado documentos sigilosos sem a devida autoridade para fazê-lo, o que deflagrou a investigação. Feinstein rejeitou as acusações.

    Na Casa Branca, o porta-voz do presidente Barack Obama, Jay Carney, desconversou, afirmando que o caso é alvo de investigação de um inspetor-geral independente da CIA e foi encaminhado para o Departamento de Justiça.

    "Não posso comentar sobre alegações que estão sob análise", afirmou.

    Carney disse que a Casa Branca leva as preocupações de Feinstein muito a sério, mas também tem plena confiança em Brennan.

    - Documentos desaparecidos -

    O caso remonta a vários anos. Em 2009, a Comissão de Inteligência iniciou uma investigação sobre o programa de interrogatórios violentos da CIA, incluindo a técnica chamada "submarino". Bastante polêmica, a prática que simula um afogamento foi usada nos dois mandatos de George W. Bush (2001-2009).

    Investigadores da comissão foram habilitados com acesso a um prédio de alta segurança, na Virgínia, próximo de Washington, e a mais de 6 milhões de documentos entregues pela CIA. Segundo um acordo entre o Senado e a agência, eles poderiam fazer a consulta em computadores protegidos, aos quais a CIA não deveria ter acesso.

    Em 2010, mais de 900 páginas com documentos particularmente importantes desapareceram dos memorandos protegidos dos investigadores, relatou Feinstein. A senadora contou que, depois de reclamar com a Casa Branca, os documentos foram fornecidos novamente.

    Em dezembro de 2012, a Comissão aprovou, a portas fechadas, um relatório devastador de mais de 6.300 páginas chamado "Informe sobre a tortura". No documento, os investigadores concluíram que a técnica foi um "terrível erro" e não contribuiu para seguir a pista de Osama bin Laden.

    Entre os documentos "sensíveis" desaparecidos havia alguns referentes a um memorando secreto divulgado pelo diretor anterior da CIA Leon Panetta. Segundo a comissão, o texto contradizia a posição oficial da CIA sobre os interrogatórios.

    "Em 15 de janeiro de 2014, o diretor da CIA, (John) Brennan, pediu uma reunião de emergência para me informar (...) que, sem notificação prévia, ou aprovação, o pessoal da CIA esteve bisbilhotando - essas foram as palavras de Brennan - os computadores da Comissão no prédio externo", contou a senadora, explicando que a operação compreendia os discos rígidos que continuam o trabalho interno da comissão e sua comunicação interna.

    O inspetor-geral da CIA transmitiu o caso ao Departamento americano da Justiça, um movimento que Feinstein descreveu como "um esforço potencial para intimidar" seus funcionários.

    De acordo com a senadora, o relatório sobre a tortura poderá ser "desclassificado" parcialmente este mês, depois da autorização da Casa Branca.

    A organização American Civil Liberties Union aplaudiu Feinstein por sua "necessária e histórica defesa do princípio constitucional de separação de Poderes".

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