segunda-feira, 18 de julho de 2011

Especialistas reclamam reconhecimento do Brasil como potência mundial

 

por Jim Lobe, da IPS

211 Especialistas reclamam reconhecimento do Brasil como potência mundial

Presidência do Brasil

Dilma Rousseff recebeu, em março, Barack Obama no Palácio de Planalto.

Washington, Estados Unidos, 15/7/2011 – Os Estados Unidos precisam admitir que o Brasil é uma potência global e tratá-lo como tal, afirma um informe divulgado em Washington pelo influente Council on Foreign Relations. Tal tratamento deve incluir um apoio total do governo de Barack Obama à pretensão brasileira de obter um assento permanente em um Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) ampliado, afirma o documento de 109 páginas intitulado “Global Brazil and U. S. – Brazil Relations” (O Brasil Global e as Relações Estados Unidos-Brasil), apresentado ontem à imprensa.

“Um apoio formal de Washington a Brasília ajudaria a superar a suspeita do governo brasileiro de que o compromisso norte-americano com uma relação madura e entre iguais não passa de retórica”, afirma o documento elaborado por um grupo de 30 especialistas presididos pelo ex-presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, e pelo ex-secretário de Energia, Samuel Bodman.

Entre outras recomendações, o informe cobra uma “comunicação aberta e regular” entre presidentes e altos funcionários dos dois países, a criação de um escritório de assuntos brasileiros no Departamento de Estado e de um mecanismo de alto nível no Conselho de Segurança para coordenar as muitas agências deste país que tratam com o Brasil, e a eliminação das tarifas sobre a importação do etanol brasileiro, um elemento de permanente irritação nas relações bilaterais.

“O Brasil superou seu status de país maior e mais rico em recursos da América Latina, para situar-se entre as potências fundamentais do mundo”, afirma o texto. “As autoridades norte-americanas devem reconhecê-lo como ator global, tratar sua emergência como uma oportunidade para os Estados Unidos e trabalhar com ele para desenvolver políticas complementares”, acrescenta.

Esse reconhecimento exige que Washington aceite a ideia da independência de Brasília em matéria de política externa, inclusive em assuntos como a questão internacional referente ao programa nuclear do Irã, que o Brasil tentou solucionar no ano passado junto com a Turquia, causando aborrecimento ao governo de Obama.

“Como os Estados Unidos nunca superaram a ideia de que o Brasil deveria alinhar-se com suas políticas, não lidou com as diferenças sobre este problema, como o fez com muitas outras que Washington mantém com outras nações do bloco Brics” (Brasil, Rússia, Índia, China), afirmou David Rothkopf, ex-membro do Conselho Nacional de Segurança e um dos redatores do informe. Rússia e China já têm assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU, e Obama apoiou no ano passado a candidatura indiana.

“Este tipo de duplo discurso é a fonte do ceticismo de Brasília quanto à sinceridade com que os Estados Unidos saúdam seu avanço”, escreveu Rothkopf em seu blog. A publicação do documento constitui “o mais recente tremor de uma mudança tectônica na forma como Washington observa o papel das potências emergentes”, acrescentou. Há mais de uma década, especialistas e instituições, como a Brookings Institution e a Inter-American Dialogue, cobram do governo norte-americano mais atenção ao Brasil e às suas políticas.

Um mês depois da posse do ex-presidente George W. Bush, outro grupo de trabalho do Couincil on Foreign Relations, no qual predominavam investidores, empresários, lobistas e ex-diplomatas, publicou uma carta aberta exortando Bush a estabelecer “uma estratégia de alto nível e um diálogo estratégico e cooperativo com o governo brasileiro”. “O Brasil é muito importante em tudo o que está acontecendo na América do Sul para manter uma política de benigno abandono”, advertia a carta, ignorada pela administração Bush que logo se viu mais preocupada com o que acontecia no Oriente Médio e na Ásia meridional.

Entretanto, o que era certo sobre o Brasil na América do Sul há uma década aplica-se cada vez mais ao mundo. O Brasil desempenha um papel-chave em um leque de assuntos que vão desde a mudança climática e a energia até segurança alimentar, luta contra a pobreza, a paz e a segurança internacionais, afirma o documento. É que o Brasil “é e continuará sendo uma força integral na evolução de um mundo multipolar”, segundo o informe. “É o quinto maior território, tem a quinta maior população e a oitava economia” e caminha para ser a quinta em poucos anos, acrescenta.

O governo Obama parece estar assumindo as rédeas com maior seriedade, apesar das diferenças que manifestaram diante do golpe de Estado de 2009 em Honduras, nas negociações secretas entre Estados Unidos e Colômbia para ocupar várias bases militares nesse país, e a política para o Oriente Médio. Esses elementos levaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a expressar sua crescente decepção com Obama pouco antes de entregar o cargo a Dilma Rousseff.

A investidura de Dilma representou uma oportunidade para relançar a relação, e, em sua visita de março ao Brasil, Obama levou nada menos que sete ministros e outros altos funcionários. “A viagem de Obama foi animadora, bem como sua afirmação de que a ascensão do Brasil constituía um elemento de interesse para os Estados Unidos”, disse a embaixadora em Brasília, Donna Hrinak, que falou ontem à imprensa junto com a diretora do grupo que redigiu o informe, Julia Sweig.

Contudo, para desgosto de sua anfitriã, Obama se absteve de assinar formalmente a candidatura do Brasil ao Conselho de Segurança, como fez no caso da Índia quando viajou no ano passado a Nova Délhi. “Os brasileiros querem um assento no Conselho de Segurança e a eliminação das taxas sobre seu etanol”, disse o presidente do Inter-American Dialogue, Michael Shifter.

A velocidade com que Washington deveria dar o primeiro passo dividiu o grupo que redigiu o documento. Nove deles desejam que “comece o trabalho diplomático” para assinar a candidatura do Brasil a membro permanente do Conselho de Segurança. Porém, a maioria pediu um apoio imediato, seguido de consultas com outros países da região e de um “intenso diálogo” com Brasília sobre “assuntos de governança regional, multilateral e global”. Esta opção, segundo o grupo minoritário, corre o risco de gerar “reações adversas de aliados importantes dos Estados Unidos na América Latina, que veriam a escolha do Brasil como um bloqueio às suas próprias ambições multilaterais”.

Outro grupo, de cinco redatores (Hrinak, Sweig e Rothkopf, entre eles), acredita que a recomendação de um apoio imediato seguido de consultas tampouco irá tão longe quanto deveria. “É uma mensagem equivocada ao Brasil e ao mundo. Se os Estados Unidos apoiam, como disse Obama, estruturas de liderança das instituições internacionais que refletem melhor as realidades do mundo, deve apoiar sem mais demora a candidatura do Brasil”, acrescentaram. Envolverde/IPS

Nenhum comentário:

Postar um comentário