Não houve um só dia na última década que integrantes do núcleo
duro do bolsonarismo, ou simpatizantes dessa corrente ideológica
autoritária, assim como os poucos entusiastas endinheirados ou
pseudoendinheirados restantes da quase extinta direita “tradicional”,
não saíram por aí, em entrevistas, debates ou mesas de bar, dizendo que
“o PCC está junto com o PT”. Sim, na cabeça simplista e/ou
mal-intencionada dessa gente, a “Geni” da política brasileira, o Partido
dos Trabalhadores, sempre está fantasiosamente imputado nos mais
diversos crimes e esquemas ilegais. É uma verdadeira obsessão por
rotular a sigla do presidente Lula como “uma quadrilha’.
E foi assim que começou o dia de hoje, com a mesma bobajada, até que
vieram os primeiros raios de sol e a sociedade brasileira ficou sabendo
que o PCC estava, e está na verdade, na “Faria Lima”, queridinha dos
bolsonaristas e da “direita liberal” (leia-se “entreguista”) como um
todo. A maior operação policial da História do Brasil revelou que uma
das mais colossais e estruturadas organizações criminosas do planeta
estava praticamente em processo de fusão com o baronato do capital
nacional, que atende por essa metonímia que remete à pomposa e luxuosa
avenida paulistana onde estão instaladas as sedes de nove de cada dez
corporações financeiras e multinacionais.
O Primeiro Comando da Capital, já previamente conhecido por operar em
pelo menos 24 países, é o proprietário de 40 fundos de investimento
operados a partir da Faria Lima, movimentando um patrimônio líquido de
R$ 52 bilhões e com parcerias que proporcionam até negociação de ações
na bolsa de valores de São Paulo, a B3. O PCC possui de inúmeras
fintechs. Sim, você não leu errado: o PCC é dono de bancos, na Faria
Lima.
Atuando em diversas áreas, mas sobretudo no ramo dos combustíveis, a
Polícia Federal descobriu que os criminosos “empreendem” em toda a
cadeia, desde a produção no campo, no caso do etanol, à base de cana,
até a venda no bico da bomba de mais de mil postos de gasolina
espalhados por oito estados do Brasil. O arcabouço que permite tudo isso
funcionar é algo inacreditável: 1.600 caminhões, quatro usinas
produtoras de álcool, um terminal portuário, pelo menos 100 imóveis
adquiridos, seis propriedades rurais no interior paulista e uma
milionária mansão numa das áreas turísticas mais valorizadas do país,
Trancoso, na Bahia.
Em meio a isso, é válido lembrar uma coisa. A Faria Lima sempre se
gabou de ser uma espécie de oráculo que tem o direito divino de impor
aos eleitores do país quem é o melhor candidato para assumir a
Presidência da República. É desnecessário dizer que esses maganos têm
uma repulsa incontrolável de Lula e de candidatos de esquerda, sempre
dando sua “bênção” aos postulantes da direita. Aliás, quanto mais
reacionário e vendilhão, melhor. E você quer saber quem é o atual
“escolhido” da Faria Lima? Ele mesmo, Tarcísio de Freitas, o governador
de São Paulo.
Tarcísio não sai dos coffee breaks animados e otimistas patrocinados
por esses barões, já deve estar até com problemas de colesterol de tanto
enroladinho de salsicha. Praticamente duas vezes por semana aparece de
microfone na mão, em algum hotel luxuoso, soltando impropérios contra
Lula e o governo federal, sendo recompensado com salvas de palmas
esfuziantes. A imprensa corporativa destaca nas manchetes e o brinda
como o homem que fará o Brasil crescer, até porque o forasteiro carioca
que governa o estado mais rico do país vive combatendo o PCC com suas
operações policiais violentíssimas e muito eficientes, que deixam sempre
algumas dúzias de jovens negros pé-rapados mortos, estirados no chão
sobre uma poça de sangue, tirando de circulação perigosas cinco
trouxinhas de maconha.
Pois bem. O mais curioso nesse enredo é que o PCC tornou-se uma
megapotência empresarial, com patrimônio maior do que 70% dos nomes de
bilionários norte-americanos da lista da Forbes, operando até na bolsa e
com escritórios em arranha-céus espelhados da Faria Lima, bem debaixo
do nariz do governo Tarcísio, no hipotálamo financeiro nacional. Ou
seja, na Faria Lima, coração das finanças do Brasil e encravada na
capital do estado de São Paulo. Claro, ninguém percebeu. Precisou que a
Polícia Federal fizesse uma operação sem precedentes para que esses
bandidos fossem descobertos e localizados.
Enfim, quem não ficou “surpreso” ao descobrir que uma corja de
pilantras gananciosos e imorais que está se lixando para os pobres
resolveu fazer uma parceria lucrativa com uma das maiores organizações
criminosas do mundo? Uma coisa é certa, ninguém ficou mais “surpreso”
que os policiais federais que realizaram a “Operação Carbono Oculto”.
Eles esperavam abrir os escritórios grã-finos e encontrar algum
sem-terra ou ainda um jovem barbudo com a camisa do PT, mas acharam
alguns sujeitos de barba feita, colete de gominhos e com pistolas na
cintura.
Fonte: https://revistaforum.com.br/opiniao/2025/8/28/no-final-pcc-nunca-esteve-com-pt-estava-na-faria-lima-186478.html