sábado, 27 de maio de 2017

Proteção debaixo d’água: as tropas de mamíferos aquáticos


26 de maio de 2017Nikolai Litôvkin, Dmítri Litôvkin, especial para Gazeta Russa
Focas e golfinhos protegem bases navais, buscam minas e até matam invasores. Mas a história de colaboração desses animais na Marinha é mais antiga do que se pensa.
Treinamento de focas envolve sobretudo detecção de minas e coleta de objetos do fundo do mar Foto:Instituto de Biologia Marinha de Murmansk
O Ministério da Defesa russo não fala abertamente sobre esse esquadrão marinho – o assunto não é discutido pelos militares e é tratado como se não existisse. Mas existem dois centros secretos de treinamento de mamíferos marinhos: o Instituto de Biologia Marinha de Murmansk, no norte da Rússia, e o Oceanário de Sevastopol, na Crimeia.
No ano passado, uma licitação para a compra de golfinhos foi aberta no site de compras do Estado. Após o processo, os militares adquiriram cinco golfinhos-roaz, (ou golfinho-nariz-de-garrafa) em agosto de 2016 – duas fêmeas e três machos com entre três e cinco anos de idade –, por 350 mil rublos cada (mais de R$ 20 mil).
“O treinamento de mamíferos marinhos para fins militares ocorre desde os tempos soviéticos”, disse Guennádi Matichov, membro do Centro Científico do Sul, da Academia Russa de Ciências, à Gazeta Russa. Na época, ele desenvolveu programas para o treinamento de mamíferos marinhos.
Agulhas presas a golfinhos permitem que animais matem invasores (Foto: Lori/Legion-Media)
“O principal papel desses animais é proteger as águas da base principal da frota contra sabotadores subaquáticos. Por exemplo, ao detectarem um intruso na entrada da baía, os golfinhos-roaz emitem imediatamente um sinal para um operador na vigilância costeira. Na sequência, dependendo do comando, são capazes de matar um inimigo com o uso de agulhas e seringas envenenadas presas aos animais”, explicou.
Os animais também são treinados para procurar torpedos, minas e outras munições que se encontrem até 120 metros de profundidade.
Como tudo começou
Na década de 1980, durante os testes do sistema antissubmarino Medvedka, um dos mísseis foi “extraviado” – em vez de subir para a superfície na área do suposto alvo, juntamente com todo o seu equipamento telemétrico, o objeto afundou.
Os mergulhadores não conseguiram localizá-lo em meio a detritos submarinos e objetos de aparência semelhante no fundo do mar. A arma recém-desenvolvida não podia simplesmente ser abandonada, já que os projetistas seriam responsabilizados pelos militares. Foi então que um dos marinheiros sugeriu contatar o oceanário.
“Muitas pessoas riram da sugestão”, relembra Valentin Smirnov, desenvolvedor dos mísseis estratégicos Topol-M, Yars e Bulava. “Mas a situação era desesperadora, e, por isso, resolveram fazer uma tentativa.”
Para surpresa de todos, um golfinho encontrou o torpedo afundado em questão de minutos e anexou um cabo a ele para que o objeto fosse içado.
A partir de então, golfinhos-roaz começaram a ser treinados para que pudessem ser enviados em missões militares. Esse programa só foi arquivado em 1991, após o colapso da União Soviética.
Trupe aquática
Inicialmente, os militares pretendiam treinar não apenas golfinhos, mas também as baleias belgas, que apresentam grande capacidade biológica de detectar a posição e distância de objetos no fundo do mar.
A ideia do comando naval era empregar belugas nas entradas de baías como “sentinelas”. Caso detectassem um inimigo, elas deveriam apontar sua descoberta a um oficial, que então libertaria as focas assassinas.
Mas a União Soviética não dispunha de equipamentos capazes de retransmitir precisamente a situação no fundo do oceano em tempo real, e as baleias não eram adequadas para servir nas águas no norte do país. Assim, o projeto foi abortado.
O treinamento de focas, incluindo as aneladas e barbudas, envolve sobretudo a detecção de minas e a coleta de objetos do fundo do mar. “Basta mostrar a elas o objeto que se quer resgatar, e elas o encontrarão”, disse Matichov.
Em trabalhos de resgate, focas memorizam rapidamente objeto a ser coletado (Foto: Instituto de Biologia Marinha de Murmansk)
“Elas também funcionam muito bem em conjunto com mergulhadores – são capazes de buscar e transportar ferramentas e protegem seu mestre.”
Segundo o treinador, o principal problema no treinamento de focas é o que chama de “fator animal”. “De certo modo, eles sempre permanecem selvagens. E sempre que uma foca sai para caçar e detecta uma fêmea, ninguém pode garantir que nossos protetores marinhos retornarão à base”, concluiu o especialista.
Apesar de treinamento, animais continuam "selvagens", diz treinador (Foto: Instituto de Biologia Marinha de Murmansk)
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