quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Cadê os brasileiros do escândalo do HSBC?

No escândalo da HSBC suíço, 80% das contas de brasileiros são numeradas ou têm como titulares empresas de paraíso fiscal; em jogo, US$ 7 bilhões de procedência a ser investigada

Por Plínio Fraga

image

O banqueiro Edmond Safra: conta declarada na Suíça. Foto: CIJ

Um conjunto de dados do HSBC, com informações sobre 6.600 contas bancárias secretas de 8.667 brasileiros (pessoas físicas ou jurídicas) na Suíça, está em investigação. São correntistas que somam saldo de US$ 7 bilhões.

Um ex-funcionário do HSBC suíço colecionou-os durante quase dez anos e decidiu entregá-los às autoridades fiscalizadoras e a um consórcio internacional de jornalistas investigativos.

No caso dos brasileiros, os dados estão sendo analisados para determinar se há ilegalidade nessas operações bancárias ou se os valores foram declarados à Receita Federal. As informações estão há três meses com as autoridades brasileiras, sem que tenha havido consequências até aqui.

O banco britânico HSBC manteve 106 mil contas secretas em sua filial na Suíça. Calcula-se que grande parte do dinheiro tenha origem em esquemas de evasão de divisas, sonegação fiscal e crimes como narcotráfico, contrabando e corrupção política. As operações ilegais foram denunciadas no domingo (8), pelo Consórcio Internacional de Jornalistas, a partir de dados entregues ao jornal Le Monde.

Os arquivos revelam registros privados de jogadores famosos de futebol e tênis, estrelas do rock, atores de Hollywood, realeza, políticos e executivos.

Os registros de contas vazados mostram alguns clientes viajando a Genebra para sacar grandes quantias de dinheiro vivo. Também documentam grandes somas controladas por vendedores de diamantes conhecidos por atuar em zonas de guerra e vender pedras preciosas para financiar insurgentes que provocaram inúmeras mortes.

Na lista internacional aparecem nomes como o piloto Fernando Alonso; o cantor David Bowie; o rei de Marrocos, Mohammed VI; o rei da Jordânia, Abdullah II, o designer de moda Valentino; a modelo Elle McPherson; os atores Christian Slater e John Malcovich; o banqueiro Edouard Stern e o motociclista Valentino Rossi.

O Brasil aparece em quarto lugar entre os países com maior número de clientes com contas secretas no banco, registradas desde a década de 1970 até o ano de 2006. Entre os brasileiros identificados estão o banqueiro Edmond Safra, um dos donos do Grupo Safra, falecido em 1999, e a família Steinbruch, dona do grupo Vicunha. Os grupos informaram que as contas são legais e declaradas nos informes de rendimentos dos proprietários.

Ter conta na Suíça não é crime. O dinheiro que a abastece pode ter origem nele. Entre as 106 mil contas do HSBC suíço, 50% estão em nome de seus proprietários, 35% são contas numeradas (um artifício para esconder seu titular) e 15% são vinculadas a empresas no exterior, em geral criadas em paraísos fiscais (outra maneira de esconder o dono do dinheiro.)

No caso das contas ligadas a brasileiros, 70% são numeradas e 10% vinculadas a empresas em paraísos fiscais. Somente 20% estão em nome do seu titular. No mínimo, uma forma suspeita de guardar dinheiro. O valor máximo encontrado em uma das contas de brasileiros atingiu US$ 320 milhões.
Veja também:
Figuras do esporte envolvidas em escândalo fiscal
Você sabe se o seu banco financia a produção de armas ou se preocupa com a sociedade?
Presidente do Paraguai confirma que teve 2 contas no HSBC da Suíça

Mais suspeito ainda tem sido o comportamento das autoridades brasileiras. Nada foi divulgado sobre o que investigou e possibilidade de eventuais punições. A lista do HSBC inclui políticos como o presidente do Paraguai, Horacio Cartes. Existem US$ 15 bilhões de venezuelanos; US$ 3,5 bilhões de argentinos. Existem 31 contas correntes de cubanos, com US$ 84 milhões, apesar do fechado regime comunista.

Será que as autoridades brasileiras temem encontrar envolvidas lideranças políticas e empresariais?

De acordo com o Banco Mundial, a fatia dos 10% dos brasileiros mais ricos controla 44% da riqueza nacional. No caso suíço, está se falando de 0,0001% dos mais ricos. Combater a corrupção também passa por dificultar a vida de quem ganha dinheiro fácil, não paga impostos e corrompe o poder.

https://br.noticias.yahoo.com/blogs/plinio-fraga/no-escandalo-da-hscb-suico-80-das-contas-de-142939109.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário