sábado, 4 de julho de 2015

Lista mostra que EUA grampearam 29 telefones do governo brasileiro

 

Documentos revelam que espionagens começaram em dezembro de 2010, antes do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff

O site WikiLeaks divulgou novas informações sobre a espionagem americana de integrantes do governo e de diplomatas brasileiros. A repórter Sônia Bridi conseguiu os nomes de quem foi grampeado e descobriu que as espionagens começaram em 2010, antes da posse da presidenteDilma Rousseff.

A espionagem americana montou um cerco à presidente Dilma. Grampeou quatro números de telefone do Palácio do Planalto, do gabinete da presidente, do assistente particular dela e da secretária. Nem no ar Dilma estava longe dos ouvidos eletrônicos da NSA.

O telefone por satélite do avião presidencial também estava sendo espionado, assim como o embaixador-chefe do cerimonial da Presidência e o ministro-chefe da Casa Civil no início do primeiro mandato, o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci.

A revelação foi feita pelo site WikiLeaks e publicada ao mesmo tempo pelo canalGloboNews. E veio na semana em que terminou a visita oficial da presidente Dilma aos Estados Unidos. A visita marcou a reaproximação dos dois países, que estava estremecida desde que Dilma cancelou a visita, dois anos atrás, quando o Fantástico revelou que ela era espionada pelos americanos.

Na época, o documento mostrava que eram espionados a presidente Dilma, seus principais assessores e os interlocutores deles. Só que os nomes dessas pessoas foram apagados. O número daquela operação: S2C42, o mesmo número que agora aparece na lista ao lado de vários nomes. Essa lista tem 18 nomes, além o da presidente, e 29 números de telefone.
O S2C42 é a operação para espionagem de questões políticas relacionadas ao Brasil. Entre os grampeados estão diplomatas de diferentes áreas do Itamaraty: André Amado, da Subsecretaria de Ambiente e Tecnologia; Valdemar Leão, assessor financeiro; Paulo Cordeiro, da Secretaria de Assuntos Políticos; Roberto Doring, então assessor do ministro das Relações Exteriores; o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, então subsecretário-geral de Meio Ambiente, era o negociador do Brasil nas questões do clima, depois foi ministro das Relações Exteriores e hoje é embaixador do Brasil em Washington.

Outros nomes do alto escalão da diplomacia brasileira: o embaixador Luiz Filipe de Macêdo Soares tinha grampeado o telefone da residência oficial dele em Genebra, onde era o representante permanente do Brasil junto à Conferência de Desarmamento; o embaixador do Brasil na França, José Maurício Bustani, que antes foi diretor da Organização Internacional para Proibição de Armas Químicas – ele foi afastado do cargo por pressão do governo americano; o embaixador Bustani tentava uma negociação com o Iraque como alternativa à invasão americana em 2002; e o embaixador Everton Vargas, que, na época, estava em Berlim.
A lista revela o grande interesse dos americanos na economia brasileira. Sob outro código, S2C51, o da operação que acompanha a evolução financeira mundial. É o mesmo que foi usado para espionar os três últimos presidentes da França, como o WikiLeaks revelou na semana passada.
No Brasil, a espionagem econômica teve como alvo o atual ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que então ocupava o cargo de secretário-executivo do Ministério da Fazenda; Luiz Balduíno, atual secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda e o sub dele, Fernando Meirelles de Azevedo Pimentel; a procuradora da Fazenda Nacional, Adriana Queiroz de Carvalho. Do Banco Central, foi espionado Luiz Awazu Pereira da Silva, ex-diretor da área internacional.
A lista de espionagem tem as datas em que cada uma começou. A primeira foi ainda no período de transição, no dia 14 de dezembro de 2010, 17 dias antes da posse da presidente Dilma. O último grampo foi ativado no dia 31 de março de 2011.
A lista mostra que a operação começou a ser montada no final de 2010 e foi crescendo no primeiro trimestre de 2011. Não há registros que indiquem quando ela foi encerrada, e se foi encerrada, nem do conteúdo das conversas espionadas. Mas a escolha dos alvos e do momento dá uma boa pista sobre o que os americanos estavam tentando saber em primeira mão: era a transição do Brasil de Lula para o Brasil de Dilma e de formulações de novas políticas externas e econômicas.

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/07/lista-mostra-que-eua-grampearam-29-telefones-do-governo-brasileiro.html

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