segunda-feira, 27 de abril de 2015

A cara-de-pau dos antipetistas que apoiam Bolsonaro

 

bolsonaro

Os antipetistas bolsonaristas e a corrupção no Partido Progressista (PP)

por Kátia Gerab Baggio*

Não é mesmo impressionante que muitos dos que chamam todos os petistas de “petralhas” (o termo “criativo” inventado por Reinaldo Azevedo) — “julgando” a priori todos os integrantes do PT como corruptos, de maneira genérica — apoiem um tipo como Jair Bolsonaro?

Bolsonaro, um político e militar da reserva que — além de tudo o que sabemos sobre sua reiterada truculência — é do PP, o partido que tem o maior número de políticos investigados na Operação Lava Jato (nada menos do que 31 dos 49 nomes que constam na famosa “lista do Janot”).

Na verdade, não é impressionante, pois o discurso anticorrupção dessas pessoas é só um pretexto para endossar um pensamento direitista, contrário a qualquer projeto político que pretenda, ainda que de forma limitada, enfrentar as gigantescas desigualdades brasileiras.

Vale registrar, também, que o engenheiro paranaense Paulo Roberto Costa — um dos principais articuladores e beneficiados pelos esquemas de corrupção na Petrobras, corrupto confesso e delator, já condenado pela Justiça Federal em primeira instância — foi indicado para assumir a Diretoria de Abastecimento da empresa (em 2004, no governo Lula) pelo então deputado federal José Janene (falecido em 2010), do Partido Progressista. Janene era do PP do Paraná, fez carreira política em Londrina, cidade natal do doleiro Alberto Youssef, também já condenado em primeira instância. Todo esse esquema envolve o PP e, ao que tudo indica, começou no Paraná.

Lembro que Paulo Roberto Costa é funcionário de carreira da Petrobras desde 1978 e que começou a assumir diretorias na empresa durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (foi diretor da Gaspetro de 1997 a 2000).

Então é assim: essa gente apoia Bolsonaro, que é do partido de Janene. Os esquemas de Paulo Roberto Costa irrigaram as campanhas de candidatos do PP. Paulo Maluf é do partido de Bolsonaro. Mas nada disso incomoda os bolsonaristas que gritam, nas redes e nas ruas, contra os “corruPTos”.

Considero que o governo Dilma deveria romper com o Partido Progressista. Esse é um partido da direita fisiológica, que com frequência vota contra o governo no Congresso. Isso aconteceu novamente no dia 22 de abril, na votação que aprovou a emenda que permite a terceirização das atividades-fim. O PP orientou sua bancada na Câmara pelo “sim” (a orientação do governo federal era pelo “não”) e, dos 31 votos do partido, apenas 3 foram “não”.

Grande parte dos políticos do PP (senão a maioria), principalmente nos estados do sul e sudeste, apoiou Aécio nas eleições de 2014.

No segundo governo Dilma, o PP ocupa o Ministério da Integração Nacional, com o ministro Gilberto Occhi, que já havia ocupado o cargo de ministro das Cidades de março a dezembro de 2014. O Ministério da Integração é responsável por obras importantes, como a da transposição do Rio São Francisco.
Para os bolsonaristas, o envolvimento de integrantes do PP em casos de corrupção não é sequer mencionado. O que interessa, para eles, é endossar o discurso autoritário e militarista do deputado federal mais bem votado do Rio de Janeiro em 2014, com 464 mil votos.

Um parêntese: o eleitorado do Rio, que elegeu Bolsonaro com a maior votação para a Câmara dos Deputados, também elegeu Marcelo Freixo (PSOL) com a maior votação para a Assembleia Legislativa, com 350 mil votos. Flávio Bolsonaro, filho de Jair, também foi eleito deputado estadual no Rio, pelo mesmo PP. E foi o terceiro mais bem votado, com 160 mil votos. Os outros filhos de Jair também são políticos: Carlos é vereador no Rio, pelo PP, e Eduardo é deputado federal pelo PSC de São Paulo, o Partido Social Cristão, o mesmo de Marco Feliciano e do pastor Everaldo. É a direita reunida no PP e PSC (e em outros partidos, como bem sabemos).

O PP, aliás (assim como o DEM), é herdeiro da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido criado em 1966 para dar sustentação política ao governo ditatorial militar.

No programa da ARENA, de 1975, o partido assim se posicionou: “Expressão política da Revolução de Março de 1964, que uniu os brasileiros em geral, contra a ameaça do caos econômico, da corrupção administrativa e da ação radical das minorias ativistas, a ARENA é uma aliança de nosso povo, uma coligação de correntes de opinião, uma aliança nacional”.

Como se pode ver, nada muito diferente do discurso dos que foram às ruas nos dias 15 de março e 12 de abril para “unir o Brasil contra a corrupção”, principalmente daqueles que pediram “intervenção militar”.

Bolsonaro, defensor da ditadura militar (ele recusa o termo ditadura), pediu sua desfiliação do Partido Progressista no dia 14 de abril, mas sem a perda do mandato…

Seu pedido se deu em razão da corrupção no partido? Da presença de dezenas de pepistas na lista de investigados na Operação Lava Jato? Não. Deu-se porque o deputado fluminense afirma “não ter espaço” no partido para realizar os “seus sonhos”. Bolsonaro quer ser candidato à presidência em 2018…

Alguém poderia me perguntar: porque usar meu tempo com alguém como Jair Bolsonaro?

Por dois motivos:

1) para ressaltar, mais uma vez, a hipocrisia de quem defende Bolsonaro como se ele não fosse de um partido envolvido em tantos casos de corrupção como o PP;

2) porque essa direita truculenta, de viés fascista, está crescendo no país, como não víamos desde o processo de redemocratização, e é necessário, para defender a democracia, combater esse avanço.

São tipos como os bolsonaristas os que entulham as redes de ataques a qualquer pessoa que defenda políticas sociais e a diminuição das desigualdades. Tudo em nome do “combate à corrupção”. Lembrando que, em 1964, o discurso dos golpistas era o mesmo.

* Professora de História das Américas na UFMG.

http://www.viomundo.com.br/denuncias/katia-gerab-a-cara-de-pau-dos-antipestistas-que-apoiam-bolsonaro.html

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