quarta-feira, 5 de novembro de 2014

BR Partners: não existe descontrole na economia

 

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Segundo Ricardo Lacerda, sócio-fundador do banco de investimento BR Partners e ex-presidente dos bancos de investimento Goldman Sachs no Brasil e do Citigroup na América Latina, mercado deve dar voto de confiança ao governo Dilma Rousseff: “Apesar de suas promessas de mudança terem sido vagas, é evidente a necessidade de recuperação da credibilidade fiscal e de melhoria do diálogo com o setor privado”

5 de Novembro de 2014 às 05:49

247 – O sócio-fundador do banco de investimento BR Partners Ricardo Lacerda, ex-presidente do Goldman Sachs no Brasil e do Citigroup, defende voto de confiança do mercado no governo Dilma Rousseff pelo PT ter trazido ao mercado de consumo dezenas de milhões de pessoas até então marginalizadas. Leia:

O que o mercado deve esperar de Dilma 2

O mercado fez da possível vitória de Aécio uma tábua de salvação, o que deu origem a uma especulação eleitoral que não víamos desde de 2002
Passada a disputa eleitoral mais acirrada dos últimos 25 anos, o investidor pergunta como vai ser o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Veremos a explosão da inflação, dos juros e do dólar, e a queda vertiginosa das Bolsas, como o mercado especulou histericamente nas últimas semanas?

A piora de alguns indicadores econômicos a partir de 2013, aliada a uma postura mais intervencionista da presidente, acabaram assustando investidores e deteriorando o ambiente de negócios. Vejo uma reversão desse cenário a partir de agora.

Mesmo diante de uma inflação corrente acima da meta e de números fiscais decepcionantes, não existe descontrole na economia. O Brasil não foi o único país a relaxar as políticas monetária e fiscal diante da maior crise das últimas décadas.

Se foram promovidos estímulos de forma equivocada, é natural revertê-los. É preciso dar crédito ao PT por ter trazido ao mercado de consumo dezenas de milhões de pessoas até então marginalizadas. Esse movimento impulsionou o crescimento e viabilizou a história de inúmeras empresas no mercado de capitais, além de ter fomentado as fusões e aquisições. Isso explica a resiliência do investidor internacional em relação ao Brasil.

A política intervencionista do governo teve, de fato, um efeito pernicioso, mas é injusto atribuir sua origem exclusivamente a ideologias da presidente. Empresários renomados foram a Brasília defender medidas para seus setores. Cabe agora fazer ajustes e se inspirar nos exemplos de sucesso para atrair o capital que o país precisa.

O debate econômico se radicalizou em razão da estratégia dos candidatos. Sem espaço na esquerda, Eduardo Campos optou por um discurso de direita, que foi herdado por Marina Silva e potencializado com o surpreendente desempenho de Aécio Neves. O mercado transformou uma eventual vitória da oposição em tábua de salvação e, a partir daí, surgiu um nível de especulação com o cenário eleitoral que não víamos desde de 2002.

Passada a eleição, os mercados continuam voláteis e aguardam o tom do segundo mandato, mas alguns sinais indicam que a presidente pode surpreender positivamente.

Em primeiro lugar, os eleitores expressaram preocupação com a inflação e o baixo crescimento. A presidente ouviu o recado e admitiu que mudaria sua equipe e suas políticas. Em segundo lugar, um contingente enorme de eleitores, principalmente na classe média, quer mais modernidade e desenvolvimento econômico. Impossível imaginar que o pragmatismo político não dará ouvidos a tais anseios.

Além disso, o acirramento do debate trouxe mais consciência sobre temas econômicos. O governo entendeu o risco de procrastinar ajustes até uma nova eleição.

O mercado deveria dar um voto de confiança à presidente. Apesar de suas promessas de mudança terem sido vagas, é evidente a necessidade de recuperação da credibilidade fiscal e de melhoria do diálogo com o setor privado.

Quanto mais rápida e convincentemente a presidente fizer o anúncio da nova equipe econômica e das diretrizes para o novo mandato --não apenas com nomes, mas também com compromissos--, menor será o custo para o país nos próximos quatro anos.

Brasil 247

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