quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Por quê a China joga 40 bilhões no canal?

 

Nicarágua, China, construção, economia, política

Foto: AP/Esteban Felix

A China é o principal investidor da construção do Canal interoceânico da Nicarágua. Estima-se que o projeto, o maior da história da Nicarágua e um dos maiores da América Latina, terá um custo de US$ 40 bilhões. A grande questão é por quê a China faria uma hidrovia ligando os oceanos Atlântico e Pacífico, perto do Canal do Panamá?

A empresa de Hong Kong, a HKND ganhou a concessão para a construção do Canal da Nicarágua. No entanto, as autoridades da Nicarágua pediram um time out de meio ano para prepararem a argumentação de viabilidade técnico-econômica do projeto. Agora, existe a versão final da rota do novo canal interoceânico. A hidrovia terá seu início na foz do rio Brito na costa do Pacífico nicaraguense e passará até o rio Punta Gorda na costa do Atlântico. A nova hidrovia artificial irá se estender por 278 km. E cerca de 200 mil trabalhadores serão envolvidos na construção do projeto. Espera-se que o novo Canal irá assumir cerca de 5% de tráfego internacional de transporte marítimo.

À primeira vista, pode não parecer óbvio o por quê a China investe num projeto tão grandioso, caro e problemático.

Primeiro, apenas a 600 km já existe o Canal do Panamá cujo comprimento é de cerca de 82 km. Pode parecer inviável construir um novo caminho que é três vezes maior.

Segundo, os ambientalistas se manifestam contra a construção do Canal da Nicarágua já que a hidrovia longa passaria pelas áreas naturais únicas.

Porém, tendo em vista o custo do projeto que é aproximadamente duas vezes maior do que o PIB nicaraguaense, as autoridades do país e os chineses farão tudo para implementá-lo. Grandes interesses econômicos estão em jogo, afirma o diretor do Instituto de projetos regionais de prioridades, Nikolai Mironov:

"O volume de comércio entre a China e a América Latina atingiu 261 bilhões de dólares. Para comparação, o comércio do Japão com a América Latina soma apenas 22 bilhões. Além disso, a China está interessada no aumento de fornecimento de petróleo da Venezuela para até 1 milhão de barris por dia no ano de 2016. No já existente Canal do Panamá passam os petroleiros com capacidade de carga de até 80 mil toneladas, enquanto o Canal da Nicarágua permitiria o tráfego de petroleiros com capacidade para até 330 mil toneladas. Só para atender os volumes atuais, é necessário o uso de dois a três petroleiros por dia e no Canal da Nicarágua, seria possível usar um petroleiro em quatro dias. Este fato permitirá reduzir as despesas".

Mas por enquanto os especialistas estão céticos sobre as perspectivas do projeto. Representante de comércio da Rússia na China, Alexei Gruzdev destaca que a empresa chinesa HKND é bem conhecida por suas declarações ambiciosas que agitam o mundo econômico. O representante de comércio fez lembrar que a mesma empresa já teve as intenções de construir um porto de águas profundas na Crimeia, inclusive foram assinados os respetivos acordos com o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovich. Porém, este projeto não chegou a ser implementado.

E quanto à construção do Canal da Nicarágua hoje não se sabe nem como uma empresa privada conseguiria fontes de financiamento para tal projeto.

Alexei Gruzdev, no entanto, destaca que a missão comercial russa na China vai continuar a estudar este projeto quanto ao seu potencial de implementação. Além disso, a participação da Rússia também é possível.

No âmbito da reunião da Comissão Intergovernamental de cooperação econômico-comercial e técnico-científica da Rússia e Nicarágua, realizada em Manágua, no início de novembro do ano passado, os representantes da Nicarágua manifestaram interesse na participação russa na construção da hidrovia.
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_08_20/Por-qu-a-China-joga-40-bilh-es-no-canal-5129/

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