segunda-feira, 16 de junho de 2014

Islamitas e a experiência geopolítica dos EUA no Iraque

 

Iraque, EUA, crise

Foto: AP

Na segunda-feira, as praças de negociações mundiais reagiram à situação no Iraque com uma impetuosa subida dos preços de petróleo. Todavia, peritos opinam que as perturbações econômicas farão apenas uma parte de futuros problemas a enfrentar pelo Oriente Médio e pela Comunidade Internacional.

Os EUA não puderam prever tal desenrolar dos acontecimentos. Ninguém na Casa Branca, no Pentágono ou Langley esperava que as tropas governamentais iraquianas, bem treinadas e equipadas, tivessem fugido na sequência da ofensiva de milhares de extremistas armados do Estado Islâmico do Iraque e do Levante. O seu maior sucesso, alcançado há dias, foi a captura da segunda maior cidade iraquiana, Mossul, um dos pólos de indústria petrolífera local. Além disso, os rebeldes apreenderam um enorme arsenal de armas e munições do fabrico norte-americano e uma considerável reserva de dinares recém-emitidos.

Deste modo, se vai criando uma situação catastrófica para a atual direção do país, constata Semion Bagdassarov, diretor do Centro de Pesquisas do Oriente Médio e da Ásia Central:

“A ofensiva está se realizando a ritmos vertiginosos - 20 km por dia, tendo sido ocupada já uma parte significativa do país. A ameaça está pairando sobre Bagdá. Perante o impasse criado, o governo iraquiano tem apelado aos EUA, responsáveis pela atual crise”.

No processo de formação das forças de segurança do Iraque, os EUA decidiram não contratar antigos oficiais competentes do antigo Exército iraquiano. Hoje, Bagdá está colhendo frutos dessa política insensata. Vale notar terem sido gastos 15 bilhões de dólares e os gigantescos esforços para criar o Exército do Iraque que se desagrega diante dos ataques de islamitas. A situação é realmente delicada, já que a direção do Estado Islâmico do Iraque e do Levante integra antigos oficiais do regime de Saddam Hussein”.

A ocupação de Mossul é uma grande perda política, militar e simbólica para o primeiro-ministro Nouri al-Maliki, shiita, que vem demonstrando uma evidente antipatia à população sunita, sustenta o professor-adjunto de ciências sociais da Universidade Jonson&Wales (JWU), Kevin de Jesus.

“O incidente vem ilustrando a incapacidade do governo de preparar e levar a cabo um programa de combate ao grupo salafista Estado Islâmico do Iraque e do Levante que procura expandir a sua influência, controlando territórios inteiros e até autoridades autárquicas. Acho que ao governo iraquiano convinha organizar uma contra ofensiva, atuando em conjunto com a comunidade mundial e aliados regionais”.

Os EUA já tinham enviado para o golfo Pérsico o porta-aviões George Bush. Mas uma operação terrestre nem consta de seus planos. Washington perdera no Iraque cerca de 4,5 mil soldados, tendo a campanha militar iraquiana custado aproximadamente 2 trilhões de dólares. Embora a ordem de iniciar a ofensiva tivesse sido dada por George Bush júnior, o atual presidente, democrata Barack Obama, no poder há já 5 anos, não pode sacudir a responsabilidade política pelo colapso da política geopolítica norte-americana. Hoje, Obama tenta chegar a acordo com o Irão shiita que, provavelmente, exigirá mudanças radicais no enfoque da questão iraniana. Semion Bagdassarov prossegue:

“Para o Irã, o Iraque é um país mais importante do que a Síria devido à situação estratégica e às reservas de hidrocarbonetos. Nestas condições, o Irã devia ter tomado uma decisão definitiva. Por via de regra, os iranianos convidam para tais ocasiões destacamentos especiais do Exército de Guardiães da Revolução Islâmica.

Na etapa inicial, se trata de 1-2 mil combatentes. Depois, o contingente iraniano poderá aumentar. Os EUA utilizarão drones ou até aviões tripulados para efetuar ataques aéreos. Uma operação conjunta dos EUA e do Irã será um caso sem precedentes”.

Na situação atual, em que a ideia mestre da política externa dos EUA de remodelar o mundo a seu jeito vai sofrendo fiasco, Washington pode empreender passos extraordinários. Os americanos se tornaram novamente reféns da sua atitude doutrinária, tendo levado à parede a si próprios e o resto do mundo. Independentemente do desfecho da atual confrontação armada no Iraque, uma coisa é certa: o Oriente Médio se aproxima de caos, o Iraque se transforma num território anárquico, em um palco de luta armada entre diversos grupos políticos, islamitas e terroristas.
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_06_16/Islamitas-e-a-experiencia-geopolitica-dos-EUA-no-Iraque-8138/

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