segunda-feira, 10 de março de 2014

Qualquer semelhança com a nossa realidade é pura coincidência

Romeu Duarte

Era uma vez, num país de um planeta longínquo, uma presidenta realizando um governo decente, apesar de todas as dificuldades. Havia recebido seu mandato democraticamente de um correligionário seu, uma pessoa humilde e do povo, muito popular e que, por isso, desagradava muita gente. Os incomodados de sempre, em pequeno número, mas poderosos, resolveram mudar na marra aquele estado de coisas, dizem que com forte suporte externo. Para eles, era necessário tomar o poder. Já que não tinham um líder político-partidário com condições de assumir a frente da "revolta", arranjaram alguém de conduta ilibada, um juiz, também vindo das classes sofridas, o qual, dono de um discurso moralista e de modos rudes, tomou a dianteira da tarefa, mandando prender sem provas (com base no conceito do "fato do domínio") uma série de companheiros de partido da presidente, aumentando suas penas irregularmente para que não pudessem ter direito ao regime semi-aberto. Com o apoio de uma imprensa comprometida até o pescoço com o golpe e o serviço de uma turba alienada ou muito esperta na quebradeira das ruas, fez uma grande confusão (chegou até a ter o nome lembrado para presidente), sendo por fim desmascarado e desmoralizado pela mesma corte de magistrados de que fazia parte, admoestado por seus colegas a quem tanto maltratara. Sem condições de prosseguir, o juiz fracassado avisou que já era hora de partir, deixando os incomodados mais frustrados ainda. Passado o sobroço, certa noite, na varanda do palácio, a presidenta e o seu colega tomavam calmamente um coquetel de ácido clorídrico e plutônio, quando ela perguntou, olhando placidamente para as quatro luas no céu: "O que será que vão inventar agora?". Ele, tirando o gosto com um meteorito, respondeu: "O preço da liberdade é a eterna vigilância. Lembras-te do Homem da Vassoura? Da Redentora? Do Caçador de Marajás? Do Governo de 50 anos do Consenso de Washington? Pois é, minha cara, aprendamos com o passado. Ah, esse drink está das estrelas...".

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