segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Alimentos em extinção: só no Brasil, mais de 20 produtos podem sumir do cardápio

 

Por Humberto Baraldi

'Minha dieta consiste em hambúrgueres, salsicha, miojo, chocolate e milk-shake', conta o professor André Marques, 30.

Centenas de brasileiros, assim como André, não imaginam como são produzidos os tais alimentos ou mesmo quais ingredientes os compõem, mas, certamente, eles não faltam no cardápio. Enquanto isso, pratos que representam as raízes do país parecem comida

de outro planeta. E é exatamente pelo desconhecimento e baixo consumo que correm risco de desaparecer dos cardápios. São os alimentos que correm o risco de extinção.

Para que pratos típicos não sumam das mesas, existem instituições e pessoas preocupadas com isso. O movimento internacional Slow Food, associação sem fins lucrativos fundada em 1986, na Itália, catalogou 750 alimentos ameaçados no mundo, em uma

lista chamada 'Arca do Gosto', dos quais 21 são brasileiros. Todos são tão escassos que até os restaurantes especializados têm dificuldade para mantê-los no menu.

A entidade criou ainda uma lista com alimentos de 48 países (que só tende a crescer), que leva em conta cinco elementos centrais. O primeiro é a questão sensorial: o produto tem que ter característica ou sabor muito particular. O segundo, a

ligação intrínseca com o território e a memória da população onde é produzido, além de ser diferente também pelo solo e clima regionais. O terceiro, ser produzido de modo sustentável. O quarto, ser feito em quantidade limitada, por pequenos produtores, e, por fim, que haja algum risco de extinção.

Qualquer produto pode se tornar candidatado a entrar na 'Arca do Gosto', mas passa pela análise de uma comissão formada por cientistas, gastrônomos, agrônomos e jornalistas.

E o Brasil não está fora da lista. Na Arca há mais de 20 produtos brasileiros. Entre os que já foram escolhidos, estão o palmito juçara, o pirarucu, a castanha de baru e o caranguejo aratu.

Desde seu lançamento, em 1996, a tal lista já recebeu mais de 500 produtos, inclusive o doce de umbu brasileiro. 'Eu costumo fazer em casa esta sobremesa. Quando era pequena comia bastante dela, mas hoje meus netos a esquecem na geladeira', revela Amália Baraldi, 90. Segundo ela, o doce de umbu é 'azedinho' e feito com a fruta madura.

A partir do catálogo (Arca do Gosto), a Slow Food passou para a captação de recursos financeiros para bancar as Fortalezas, projetos que visam a melhoria da qualidade dos produtos ameaçados. No Brasil, elas são sete. E não existe um padrão para as Fortalezas. As iniciativas variam de acordo com a realidade e as necessidades de cada comunidade, mas objetivam: promover os produtos artesanais; criar padrões de produção; e garantir a viabilidade futura dos produtos.

Acompanhe o Portal G&N também no Twitter

Deixe seu comentário no Facebook do Portal G&N
Faça parte do nosso Grupo de Discussão

Na Fortaleza do palmito-juçara, planta nativa da mata Atlântica que há 12 anos está sendo plantada pelos guaranis da aldeia Ribeirão Silveira (litoral norte de São Paulo), a próxima etapa é conseguir um selo que permita aos índios comercializarem o caule comestível. Na Fortaleza do umbu, que reúne os municípios baianos de Uauá, Curaçá e Canudos, por exemplo, foram construídas minifábricas onde o fruto é transformado em doces, geléia e polpa pasteurizada. Da produção total, 55% é destinada à merenda de escolas do sertão do Estado, 30% vai para países como França e Áustria, 10% é vendida em feiras e exposições e 5% fica no mercado regional. Conheça abaixo, alguns alimentos que podem sumir do mapa, ou melhor, do menu:

Berbigão

O berbigão é uma espécie de molusco e está amplamente distribuído ao longo da costa do Brasil. Esse molusco é explorado como alimento e fonte de renda para os pescadores. Por ser um alimento de alto valor nutricional e rico em algumas vitaminas, e apresentando um sabor excelente, é consumido por uma grande parte da população costeira.

Mangaba

Além de apreciada in natura, a fruta mangaba é muito utilizada na fabricação de sucos, sorvetes, bem como é matéria prima para o preparo de geléias, doces em calda, compotas, licores, vinho e xaropes. A mangaba ocorre exclusivamente no Brasil, sendo mais abundante nos tabuleiros e baixadas litorâneas do Nordeste e em áreas de restingas.

Pequi

O fruto, do tamanho de uma pequena laranja, está maduro quando sua casca, que permanece sempre da mesma cor verde-amarelada, amolece. A amêndoa do pequi, pela alta porcentagem de óleo que contém e por suas características químicas, pode ser também

utilizada na indústria cosmética para a produção de sabonetes e cremes. Além disso, ele saboriza pratos com carne e arroz.

Pinhão

O pinhão é a semente da Araucária Angustifolia. Se trata de uma semente de cerca de 4 centímetros, de forma alongada e de cor de marfim, envolto em uma casca grossa e colhido em pinhas de grande dimensão, que podem conter de 10 a 120 pinhões.

Umbu

Também conhecida como imbú, esta fruta é nativa do nordeste do Brasil e é típica da caatinga, o sertão desta região semi-árida. O nome vem de uma palavra do idioma dos índios Tupi Guarani, ymb-u, que significa "árvore que dá de beber".

Arroz Vermelho

O arroz vermelho foi introduzido no Brasil pelos portugueses no século XVI, na então Capitania de Ilhéus, atualmente Estado da Bahia. Ali ele não chegou a prosperar, mas teve grande aceitação no Maranhão nos dois séculos seguintes. Em 1772, por determinação da Coroa de Portugal, que só tinha interesse na produção do arroz branco para suprir a metrópole, os agricultores foram proibidos de plantar o arroz vermelho no Maranhão. Com isso, a produção migrou para a região Semi-Árida, onde ainda é encontrado, principalmente no Estado da Paraíba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário