segunda-feira, 25 de abril de 2011

QUEDA DO DÓLAR E POLÍTICAS CAMBIAIS

Passados alguns meses em 2011, a cotação do dólar estadunidense caiu pouco mais de 5,5% frente ao real brasileiro. A moeda do país do Norte foi vendida a R$1,57 no início de abril, piso que não se alcançava há mais de dois anos e meio.

Para facilitar o entendimento das oscilações de moeda, a revista britânica "The Economist" criou o medidor de cotação pelo preço de venda do "Big Mac". O lanche vendido no Brasil, segundo esta ferramenta comparativa, ficou mais caro que o dos Estados Unidos e, de 120 nações onde este produto é vendido, o brasileiro só não é mais caro que o de sete países ou regiões (o que envolve toda a União Européia).

A oscilação do valor do dólar pode ser analisada em função de investidores que inserem o dólar no Brasil porque os juros são altos e o dinheiro rende mais que alhures menos "atrativos".

As medidas do Banco Central do Brasil e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentam corrigir a entrada torrencial de dólares no país e evitar a desvalorização do Real.

A queda da cotação do dólar, entre outras consequências para as trocas comerciais, encarece as exportações e barateia as importações. O efeito esperado é o aumento de produtos importados no país e o financiamento indireto das indústrias e os trabalhadores de onde vêm os produtos enquanto aumenta a vulnerabilidade interna ao desemprego.

O Brasil tenta aderir-se ao engodo delirante do livre mercado, mas o governo sobretaxa em 60% os produtos importados para que as empresas nacionais, muitas delas oligopólicas e oportunistas, possam competir. Esta política deve ser revista urgentemente, portanto.

Se, por um lado, a queda do dólar inibe as exportações e reduz os lucros das empresas nacionais, por outro, o governo brasileiro não vê a desvalorização da moeda estadunidense com pessimismo, visto que se trata de um mecanismo natural de combate à inflação. As empresas nacionais baixam os preços para concorrer com as estrangeiras e sobreviver.

As políticas públicas econômicas, deste modo, nem sempre intervêm rigorosamente no mercado financeiro porque os benefícios de alguns grupos compensam os prejuízos de outros. A queda do dólar, portanto, favorece o consumo dos brasileiros ao mesmo tempo em que dificulta os negócios de empresários exportadores.

Este sincronismo justifica por que o governo demora para tomar atitudes e elaborar políticas econômicas "corretivas", como a do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos no exterior. O governo brasileiro mostrou que suas políticas nem sempre desprezam as maiorias e se lançam ao gosto de grupos minoritários e poderosos.

A temporada de proteção aos brasileiros põe-se em xeque-mate, porém, quando se avaliam outros critérios econômicos. Temos a falsa impressão, por exemplo, de que o poder de compra aumentou porque o salário mínimo passou de R$510 a R$545 em fevereiro de 2011, e nunca se pôde adquirir tantos bens supérfluos, como televisores grandes de tela fina, em pagamentos a crédito, mas a inflação tem-nos perseguido sorrateiramente nos preços dos produtos.

Apesar de os conceitos econômicos comporem a mesa de burocratas e estudiosos do assunto, a economia tem um poder enorme de inundar os consumidores de produtos ou congelar suas contas bancárias subitamente, como ocorreu no governo liberalizador de Fernando Collor de Melo em 1990 sob pretexto de controle da inflação.

As políticas de câmbio seguem tendências da economia mundial e ganham eficiência de acordo com o êxito econômico de cada país, a menos que se arrisquem experiências de paridade artificial, como na Argentina que quebrou em 2001.

A subordinação das economias nacionais ao dólar estadunidense em todo o mundo ainda não vê alternativa melhor que as boas intenções que propuseram os governos de China e Venezuela, desafiadores da hegemonia desta moeda.

Fiquemos atentos se as políticas econômicas do Banco Central e nosso ministro da Fazenda favorecem os brasileiros ou as indústrias.

http://brunoperon.com.br

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