sexta-feira, 15 de abril de 2011

África do Sul quer um lugar no Bric

por correspondentes da IPS

 

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Cidade do Cabo, África do Sul, 14/4/2011 – Especialistas têm dúvidas quanto aos benefícios que a África do Sul terá incorporando-se ao grupo de economias emergentes, conhecido como Bric, formado por Brasil, Rússia, Índia e a China, sede da reunião de cúpula do grupo que começa hoje. Pretória exerceu muita pressão para ser convidada ao que considera um clube de elite de mercados emergentes. Os funcionários estão desejosos de entrar de maneira positiva no Bric.

A sigla Bric foi cunhada em 2003 por Jim O’Neill, economista da Goldman Sachs, para identificar os países com economias com crescimento mais rápido, classe média em rápida expansão e promissores mercados internos, o que lhes dava o potencial de ultrapassar o Grupo dos Sete países com melhores economias até 2040. O termo ganhou vida e se transformou em um fórum de consultas e coordenação entre seus quatro membros iniciais.

A análise de O’Neill não mencionava a África do Sul, mas Pretória finalmente conseguiu um lugar à mesa. O Departamento de Cooperação e Relações Internacionais aposta que sua participação melhorará o status do país entre as principais economias da África. O presidente Jacob Zuma aproveitará a cúpula para “articular a importância estratégica do país, bem como para garantir sinergias na agenda, priorizando o desenvolvimento e a economia da África bem como a ampliação da infra-estrutura, para obter lucro com minerais e valor agregado”, diz um comunicado divulgado por esse departamento.

Entretanto, as opiniões sobre os benefícios para a África do Sul, e por extensão para a África, estão divididas. “O Bric começou como um bloco de compensação e agora até se fala que impulsionará estratégias econômicas e políticas importantes”, disse Chris Landsberg, professor de Relações Internacionais da Universidade de Johannesburgo. Contudo, é muito cedo para analisar os benefícios tangíveis que a África do Sul terá por pertencer ao grupo.

“Somos os novos animadores e temos que ter cuidado para não nos entusiasmarmos muito, nem tão rápido”, disse Lebohang Pheko, economista e especialista em Políticas de Gênero e Redes Comerciais para a África. “Não estou certo sobre como a África do Sul ou a África poderão se beneficiar entrando para o Bric”, acrescentou. O país teve um “enfoque imperial e fechado em relação à África”, e é difícil saber se pertencer ao grupo modificará essa relação, completou.

“O Bric realiza uma grande contribuição em matéria de investimento e comércio, ao aumentar seus vínculos com países de baixa renda”, disse Biswajit Dhar, diretor do Sistema de Pesquisa e Informação para Países em Desenvolvimento, com sede em Nova Délhi. Os investimentos dos membros do Bric são, em grande parte, responsáveis pelo crescimento sustentado dos países africanos de baixa renda nos últimos anos, especialmente com a ampliação gradual das relações comerciais forjadas pela China além de seu interesse inicial por matérias-primas, que deixam um benefício limitado aos países exportadores, afirmou Biswajit.

“Uma proporção considerável dos investimentos foi, primeiro, para a exploração de recursos naturais, com o tempo os capitais fluíram para a agricultura e as fábricas e, também, para alguns setores de serviços, especialmente na área das telecomunicações”, acrescentou Biswajit. Porém, Lebohang afirma não acreditar em benefícios para os mais pobres nem para os sócios de baixa renda, e nem mesmo para a própria África do Sul. “Veja nossa interação com o mercado chinês. Conseguiram penetrar e vender seus produtos baratos e de má qualidade, e não apenas na África do Sul, mas em todo o continente”, disse a economista ao dar como exemplo o impacto da China sobre a indústria têxtil.

A transferência de tecnologia para a agricultura e o setor fabril pode servir para a África do Sul, que tenta caminhar para um crescimento sustentado em matéria de emprego. O Departamento de Comércio e Indústria informou que buscará investimento estrangeiro direto nas indústrias com valor agregado. Uma das principais áreas que pode se fortalecer com a entrada no Bric é a pesquisa. “Uma vantagem do bloco foi a associação de companhias do Bric com pequenas e médias empresas de países em desenvolvimento e o fornecimento de tecnologia”, disse Biswajit.

Nos dias anteriores à cúpula, foram anunciados acordos comerciais alcançados em reuniões bilaterais, como a compra pela China de aviões brasileiros no valor de US$ 1,5 bilhão. O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, declarou, antes de viajar à China, que espera discutir como o grupo pode contribuir para a recuperação da economia global e trocar opiniões sobre como lidar com a volatilidade das moedas e a inflação.

“Teremos certa vantagem se pudermos coordenar posições sobre assuntos primordiais, como desenvolvimento sustentável, crescimento equilibrado, segurança alimentar, reforma das instituições financeiras e equilíbrio comercial”, disse Manmohan aos jornalistas. Outro acordo muito comentado neste país é o que será assinado pelos chefes de Estado do Bric para estender empréstimos ou créditos entre si em sua própria moeda, e não em dólares. (Envolverde/IPS)

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